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20 de maio de 2025
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Conclio de Niceia 1.700 anos 2y5q24
Por que um credo de 1.700 anos to importante?
Por Alderi Souza de Matos
Como natural, desde o incio do cristianismo, a verdadeira identidade de Jesus despertou imenso interesse da parte dos seus seguidores, principalmente sua relao com Deus Pai. Quem era Jesus realmente, no seu ser mais essencial? Todavia, a influncia do pensamento grego e a prpria linguagem bblica resultaram em diferentes entendimentos sobre a pessoa do Redentor, com suas dimenses divina e humana. Os chamados docetistas, por exemplo, negavam a humanidade do Filho de Deus, dizendo que sua encarnao foi apenas aparente, no real. J os monarquianos, preocupados com a unidade do Ser Supremo, acreditavam que Pai, Filho e Esprito Santo eram diferentes manifestaes ou modos da mesma pessoa divina. Da essa posio tambm ser denominada modalismo. Outros, conhecidos como adocionistas, entendiam que Jesus era um homem como os demais, que foi adotado por Deus e revestido de atributos especiais.
No incio do quarto sculo, surgiu uma nova posio. rio, um presbtero ou sacerdote da igreja de Alexandria, no Egito, comeou a ensinar que Jesus, embora muito superior aos seres humanos, era nitidamente inferior ao Pai. Apelando terminologia bblica que descrevia o Senhor Jesus como unignito ou primognito, ele ou a afirmar que o Filho foi literalmente gerado ou criado pelo Pai, antes da fundao do mundo. Essa proposta foi condenada pelo bispo de Alexandria, mas encontrou muitos simpatizantes. O resultado foi uma enorme controvrsia, que ameaava a harmonia e unidade no s da igreja, mas do prprio imprio. Preocupado, o imperador Constantino, que, desde o incio do seu reinado havia se identificado com a f crist, resolveu convocar uma grande assembleia de bispos para discutir a questo. Esse importante conclio eclesistico, o primeiro de seu gnero, ocorreu na cidade de Niceia, a pequena distncia de Constantinopla, a magnfica capital construda pelo monarca. O ano foi 325, de maio a julho, h exatos 1.700 anos.
A maior parte dos bispos participantes era procedente da parte oriental do Imprio Romano, de lngua grega. rio, no sendo bispo, e sim presbtero, no participou oficialmente do encontro, mas foi representado por alguns influentes partidrios, em especial o bispo Eusbio de Nicomdia. Depois de muita discusso acalorada, na qual houve at mesmo a interferncia pessoal do prprio imperador, foi aprovado o Credo de Niceia, um dos documentos mais importantes da histria da igreja. Sua declarao mais decisiva que Jesus Cristo, longe de ser uma criatura exaltada, consubstancial com o Pai (em grego, homoousios to Patri), ou seja, possui a mesma substncia ou natureza que o Pai, sendo, portanto, coigual e coeterno com o Pai. Estavam lanados os fundamentos teolgicos da doutrina da Trindade.
Foram muitos os argumentos utilizados em defesa dessa concluso, vrios deles propostos pelo jovem dicono e telogo Atansio, que se tornaria destacado bispo de Alexandria por quase meio sculo (328-373). Se Jesus uma criatura, como defendia rio, a igreja culpada do pecado de idolatria ao prestar culto a ele. Se o Filho no existia antes de ser criado pelo Pai, isso significa que o Pai nem sempre foi Pai: ele s se tornou tal aps a criao do Filho. Porm, o argumento mais importante foi que negar a divindade e a personalidade distinta de Jesus Cristo colocava em dvida a prpria salvao. Se o Redentor no fosse plenamente divino, ele no poderia realizar, de modo cabal e eficaz, a mediao e reconciliao entre Deus e os seres humanos. O Credo de Niceia manteve a linguagem bblica de gerao, mas a entendeu como distinta de criao (gerado, no feito). Em outras palavras, no que diz respeito ao Ser Divino, a linguagem de Pai e Filho no tem um sentido cronolgico ou temporal, mas relacional e eterno. O Filho de Deus, como afirmaram telogos do quarto sculo, eternamente gerado pelo Pai.
As concluses de Niceia solidificaram a posio do cristianismo ortodoxo, mas no pam fim controvrsia, que ainda perdurou por vrias geraes. Apesar de condenado formalmente, o arianismo teve longa sobrevida e importantes defensores. Por fim, vrios fatores contriburam para a consolidao da ortodoxia nicena, a comear do chamado Edito de Tessalnica, promulgado pelo imperador Teodsio no ano 380, que tornou o cristianismo trinitrio a religio oficial do Imprio Romano. No ano seguinte, o segundo conclio ecumnico, reunido em Constantinopla, reafirmou e expandiu o Credo de Niceia, acrescentando uma declarao mais detalhada sobre o Esprito Santo. Contriburam para esses desdobramentos as brilhantes reflexes de vrios telogos de lngua grega o j referido Atansio e os chamados trs capadcios, Baslio de Cesareia, Gregrio de Nazianzo e Gregrio de Nissa.
Por dezessete sculos, as declaraes do Conclio de Niceia sobre Jesus Cristo tm sido abraadas pela grande maioria dos cristos, sejam eles ortodoxos gregos, catlicos ou protestantes. Apesar dos questionamentos de unitrios e liberais, com sua tendncia de negar ou subestimar o carter transcendente de Cristo, a crena na personalidade distinta e na plena divindade do Salvador tem sido uma das mais importantes convices crists, com vastas implicaes para toda a teologia, a comear pelas doutrinas da criao e da redeno. Mais do que isso, os que creem nessa verdade sublime e profunda entendem que ela est, acima de tudo, em total harmonia com o testemunho da Escritura. No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre ns, cheio de graa e de verdade, e vimos a sua glria, glria como do unignito do Pai (Jo 1.1, 14).
REVISTA ULTIMATO LIVRA-NOS DO MAL
O mal e o Maligno existem. E precisamos recorrer a Deus, o nosso Pai, por proteo.
O que sabemos sobre o mal? A que textos bblicos recorremos para refletir e falar do assunto? Como o mal nos afeta [e como afetamos outros com o mal] e porque pedimos para sermos livres dele? Por que os cristos e a igreja precisam levar esse assunto a srio?
disso que trata a matria de capa da edio 413 da revista Ultimato. Para , clique aqui.
Saiba mais:
De Niceia ao Vaticano II: breve panorama dos conclios ecumnicos, por Alderi Souza de Matos
A Caminhada Crist na Histria - A Bblia, a Igreja e a sociedade ontem e hoje, Alderi Souza de Matos
Por Alderi Souza de Matos

No incio do quarto sculo, surgiu uma nova posio. rio, um presbtero ou sacerdote da igreja de Alexandria, no Egito, comeou a ensinar que Jesus, embora muito superior aos seres humanos, era nitidamente inferior ao Pai. Apelando terminologia bblica que descrevia o Senhor Jesus como unignito ou primognito, ele ou a afirmar que o Filho foi literalmente gerado ou criado pelo Pai, antes da fundao do mundo. Essa proposta foi condenada pelo bispo de Alexandria, mas encontrou muitos simpatizantes. O resultado foi uma enorme controvrsia, que ameaava a harmonia e unidade no s da igreja, mas do prprio imprio. Preocupado, o imperador Constantino, que, desde o incio do seu reinado havia se identificado com a f crist, resolveu convocar uma grande assembleia de bispos para discutir a questo. Esse importante conclio eclesistico, o primeiro de seu gnero, ocorreu na cidade de Niceia, a pequena distncia de Constantinopla, a magnfica capital construda pelo monarca. O ano foi 325, de maio a julho, h exatos 1.700 anos.
A maior parte dos bispos participantes era procedente da parte oriental do Imprio Romano, de lngua grega. rio, no sendo bispo, e sim presbtero, no participou oficialmente do encontro, mas foi representado por alguns influentes partidrios, em especial o bispo Eusbio de Nicomdia. Depois de muita discusso acalorada, na qual houve at mesmo a interferncia pessoal do prprio imperador, foi aprovado o Credo de Niceia, um dos documentos mais importantes da histria da igreja. Sua declarao mais decisiva que Jesus Cristo, longe de ser uma criatura exaltada, consubstancial com o Pai (em grego, homoousios to Patri), ou seja, possui a mesma substncia ou natureza que o Pai, sendo, portanto, coigual e coeterno com o Pai. Estavam lanados os fundamentos teolgicos da doutrina da Trindade.
Foram muitos os argumentos utilizados em defesa dessa concluso, vrios deles propostos pelo jovem dicono e telogo Atansio, que se tornaria destacado bispo de Alexandria por quase meio sculo (328-373). Se Jesus uma criatura, como defendia rio, a igreja culpada do pecado de idolatria ao prestar culto a ele. Se o Filho no existia antes de ser criado pelo Pai, isso significa que o Pai nem sempre foi Pai: ele s se tornou tal aps a criao do Filho. Porm, o argumento mais importante foi que negar a divindade e a personalidade distinta de Jesus Cristo colocava em dvida a prpria salvao. Se o Redentor no fosse plenamente divino, ele no poderia realizar, de modo cabal e eficaz, a mediao e reconciliao entre Deus e os seres humanos. O Credo de Niceia manteve a linguagem bblica de gerao, mas a entendeu como distinta de criao (gerado, no feito). Em outras palavras, no que diz respeito ao Ser Divino, a linguagem de Pai e Filho no tem um sentido cronolgico ou temporal, mas relacional e eterno. O Filho de Deus, como afirmaram telogos do quarto sculo, eternamente gerado pelo Pai.
As concluses de Niceia solidificaram a posio do cristianismo ortodoxo, mas no pam fim controvrsia, que ainda perdurou por vrias geraes. Apesar de condenado formalmente, o arianismo teve longa sobrevida e importantes defensores. Por fim, vrios fatores contriburam para a consolidao da ortodoxia nicena, a comear do chamado Edito de Tessalnica, promulgado pelo imperador Teodsio no ano 380, que tornou o cristianismo trinitrio a religio oficial do Imprio Romano. No ano seguinte, o segundo conclio ecumnico, reunido em Constantinopla, reafirmou e expandiu o Credo de Niceia, acrescentando uma declarao mais detalhada sobre o Esprito Santo. Contriburam para esses desdobramentos as brilhantes reflexes de vrios telogos de lngua grega o j referido Atansio e os chamados trs capadcios, Baslio de Cesareia, Gregrio de Nazianzo e Gregrio de Nissa.
Por dezessete sculos, as declaraes do Conclio de Niceia sobre Jesus Cristo tm sido abraadas pela grande maioria dos cristos, sejam eles ortodoxos gregos, catlicos ou protestantes. Apesar dos questionamentos de unitrios e liberais, com sua tendncia de negar ou subestimar o carter transcendente de Cristo, a crena na personalidade distinta e na plena divindade do Salvador tem sido uma das mais importantes convices crists, com vastas implicaes para toda a teologia, a comear pelas doutrinas da criao e da redeno. Mais do que isso, os que creem nessa verdade sublime e profunda entendem que ela est, acima de tudo, em total harmonia com o testemunho da Escritura. No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre ns, cheio de graa e de verdade, e vimos a sua glria, glria como do unignito do Pai (Jo 1.1, 14).
- Alderi Souza de Matos doutor em histria da igreja pela Universidade de Boston e professor no Centro Presbiteriano de Ps-Graduao Andrew Jumper. autor de Erasmo Braga, o Protestantismo e a Sociedade Brasileira; A Caminhada Crist na Histria; Fundamentos da Teologia Histrica e s Cincias Divinas e Humanas (150 anos do Instituto Presbiteriano Mackenzie). Est residindo por um ano nas proximidades da Filadlfia, nos Estados Unidos.

O mal e o Maligno existem. E precisamos recorrer a Deus, o nosso Pai, por proteo.
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De Niceia ao Vaticano II: breve panorama dos conclios ecumnicos, por Alderi Souza de Matos
A Caminhada Crist na Histria - A Bblia, a Igreja e a sociedade ontem e hoje, Alderi Souza de Matos
Autor de A Caminhada Crist na Histria, Alderi Souza de Matos pastor presbiteriano e professor no Centro de Ps-Graduao Andrew Jumper, em So Paulo. bacharel em teologia, filosofia e direito, mestre em Novo Testamento (S.T.M.) e doutor em Histria da Igreja (Th.D.). tambm o historiador da Igreja Presbiteriana do Brasil e escreve a coluna Histria da revista Ultimato.
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