C.S. Lewis e o propsito principal do ser humano 54415u

Digno s, Senhor e Deus nosso, de receber a glria e a honra e o poder; porque tu criaste todas as coisas, e para o teu prazer vieram a existir e foram criadas. (Ap 4.11)

Qual o fim supremo e principal do homem? O fim supremo e principal do homem glorificar a Deus e goz-lo para sempre.¹

Eu sempre concordei plenamente com a resposta, at ler o livro The Problem of Pain, de C.S. Lewis, onde ele faz a seguinte declarao:

Ns no fomos criados primeiramente para amar a Deus, (ainda que tenhamos sido criados para isto tambm) mas para que Deus nos ame, para que sejamos objetos nos quais o Amor Divino descanse satisfeito.²

Em Ap 4.11 a palavra usada para prazer pode ser traduzida por: propsito, vontade. Todas as coisas foram criadas para Deus, de acordo com sua vontade, seu desejo, seu prazer. Acho que no tem como separar a vontade e o prazer dele. Se Ele tem vontade de fazer algo, porque isto o satisfaz. o seu prazer. Cl 1.16, Rm 11.36, Ef 1.5.
Se pensarmos que o propsito supremo do homem que ele faa algo para Deus, estamos centrando a sua existncia nele mesmo, e Deus como objeto da sua ao. Se pensarmos que o propsito supremo do homem receber algo de Deus, ento o homem que o objeto, Deus o Centro de tudo, inclusive da existncia humana. Deus no existe em funo do homem, e nem o homem existe em funo de si mesmo. O homem existe em funo de Deus. Ele o recipiente da ao de Deus. Fomos criados para que Deus nos ame. Fomos criados para o seu prazer.

Criados para sermos recipientes do seu amor, agora somos cados, corruptos, carentes da Sua presena, e Deus no vai ficar satisfeito at que sejamos quem ele planejou que fssemos, que tenhamos o carter adequado para receber o seu amor. Ele vai at as ltimas consequncias, at a morte, e morte de cruz. Ele tambm vai nos conduzir por caminhos que nos transforme - s vezes, caminhos desconfortveis e dolorosos. O verdadeiro amor no vai se contentar que o seu amado permanea na sajerta, na sujeira, no estado de domnio do pecado. Ele nos mostra isto na histria de Osias e Gomer. Depois de Osias tirar Gmer da prostituio e casar com ela, a esposa volta para a prostituio. Mas Deus o ordena compr-la novamente. Diante disso, uma das declaraes mais amorosas de Deus se encontra em 11.8:

Como te deixaria, Efraim? Como te entregaria, Israel? (...) Est comovido em mim o meu corao, as minhas compaixes uma se acendem.
Lewis tenta mostrar este amor de Deus para conosco usando algumas ilustraes, bblicas, de relacionamentos. Todas so limitadas, mas juntas, elas pintam um quadro que nos ajuda a contemplar este amor divino.³

A primeira a relao do artista e sua obra. Jeremias fala do oleiro e do vaso (18). Pedro nos chama de pedras vivas (1 Pe 2.5), e Paulo de edifcio de Deus (1 Co 3.9). Todas falam do desejo do artista em executar sua obra com perfeio. Ele no fica satisfeito at que a obra tenha o carter intecionado. o seu prazer. assim que Deus nos ama.

A segunda a relao do homem com animais. O Salmo 23 a analogia bblica mais conhecida. melhor do que a anterior, pois o objeto aqui senciente. A relao do homem com o animal (o cachorro, por exemplo), visa, principalmente, a inteno do homem. O cachorro existe para realizar este desejo do homem, e no o contrrio. O bem estar do cachorro ser preservado, e a inteno do homem s ser plenamente alcanada se o cachorro tambm o amar de volta. Para isto, o homem interfere na realidade do cachorro e o faz mais amvel do que ele na natureza.

A terceira uma ilustrao mais nobre, o amor de um pai pelo filho. Embora as relaes paternais no perodo fossem mais autoritrias do que as modernas, no entanto, o padro continua. O amor paternal significa amor-autoridade de um lado e amor-obedincia do outro. O pai usar seu amor e autoridade para moldar o filho na pessoa que ele, na sua sabedoria e experincia, deseja que o filho se torne.

Por ltimo, o amor entre um homem e uma mulher. O amor deseja e busca o bem, o crescimento, o aperfeioamento da pessoa amada. Quando amamos no paramos de nos importar com o estado do outro, se est agradvel ou desagradvel, decente ou indecente. Se uma mulher perceber que o marido deixou de se importar com o estado emocional e a aparncia dela, ela ir questionar o amor dele por ela. O amor perdoa todas as falhas, e ama apesar delas, mas nunca deixa de desejar a remoo destas.

Lewis fala que o amor de Deus persistente como o amor do artista; autoritrio como o amor de um homem por seu cachorro; providente e venervel como o amor do pai pelo filho; zeloso, e inexorvel como o amor entre os sexos. No d para entender isto. Ultraa todo o entendimento pensar que o Criador, que no precisa ou depende de nada, deseja, tem prazer e d tanta importncia a criaturas como ns. S podemos nos por de joelhos em adorao. O dever principal da nossa existncia deve ser glorific-lo para sempre. A vida na sua plenitude gozar deste amor com Ele.

Notas:
1. Primeira pergunta do Catecismo Maior de Westminster.
2. CS Lewis, The complete CS Lewis Classics, pg 574.
3. Ibid, 570-574

Rosifran Macedo pastor presbiteriano mestre em Novo Testamento pelo Biblical Theological Seminary (EUA). missionrio da Misso AMEM/WEC Brasil, onde foi diretor geral por nove anos. Atualmente, dedica-se, junto com sua esposa Alicia Macedo, em projetos de cuidado integral de missionrios.

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