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27 de outubro de 2022
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C.S. Lewis e a poltica 5m706u

Por Paulo Ribeiro

O desafio de ensinar o bvio: amar o que amvel e desprezar o que desprezvel

Em 1951, C.S. Lewis foi indicado a receber o ttulo honorrio de "Comandante do Imprio Britnico". Lewis recusou a oferta de Churchill para evitar que tal honraria fosse usada como trunfo poltico e partidrio de alguns. Sua recusa, no entanto, no significava que Lewis no tivesse convices sobre sistemas polticos. Ele estava apenas menos interessado na politicagem.

A viso poltica de Lewis era diferente dos outros porque ele se concentrava no aspecto aristotlico da poltica, a polis. A polis a comunidade abrangente, que combinava esferas e identidades [de] religio, governo, famlia, escola e negcios. Para Aristteles, tudo isso mantido corretamente visando algum bem. Esse foco diferente dos interesses e das maquinaes da poltica, que recebem a maior ateno da mdia e da comunidade.

Aos 10 anos, C. S. Lewis escreveu um ensaio sobre o futuro relacionamento da Irlanda e da coroa britnica. Quando atingiu a idade adulta, ensinou e escreveu sobre vrios filsofos polticos, de Plato a Rousseau e Lenin. Mas o mais importante, Lewis comentou e escreveu muitas vezes sobre os fundamentos da poltica, a luz da lei natural (*). Este era o permanente no poltico, a verdade sobre a qual a lei e a ordem so fundadas e continuamente substanciadas.

Se reconhecermos como a lei natural pode ser a fora vital do sucesso da polis no seu florescimento, veremos que os escritos de Lewis transbordam de temas polticos. Esses temas so encontrados nas Cartas do Diabo, Crnicas de Nrnia e A Abolio do Homem, entre outros. Eles trazem muita sabedoria para o exerccio da poltica.

Em A Abolio do Homem vemos que as tendncias polticas no mundo moderno esto relacionadas, em ltima anlise, a uma rejeio filosfica da tradio da lei natural. Em Aquela Fortaleza Medonha Lewis ilustrou a realidade de forma bastante potente, acreditando que uma pea de fico seria mais impactante e receberia menos contra-argumentos da sociedade do que uma obra filosfica. No prefcio do livro, ele escreve que seu desejo que a verdade seja vista como se pela primeira vez despojada de [suas] associaes de vitrais e Escola Dominical. O objetivo deste livro e de suas outras peas de fico no era principalmente ganhar debates, mas moldar disposies emocionais por meio da educao moral.

Para Lewis uma alma humana corretamente ordenada aquela em que a razo se submete autoridade de Deus, por um lado, e nossas emoes e apetites se submetem autoridade da razo.

Uma burocracia cientfica agora possvel devido aos avanos em cincia, tecnologia e a relao que os governos tm com seus cidados. Por exemplo, muitos desfrutam de maior sade, longevidade e lazer do que em qualquer outro momento da histria. Lewis via os governos democrticos como ansiosos por espalhar os benefcios a todos, pois esse o centro do pensamento democrtico: a igualdade desfrutada por todos. Assim, ele viu uma combinao mortal nas democracias liberais: avanos tecnolgicos, niilismo moral e poder. Esse estado totalitrio envolto em democracia possibilitada pela degradao da educao.

Em Abolio do Homem, Lewis se concentrou nas deficincias da educao moderna. Ele demanda que os alunos sejam ensinados a amar o que amvel e desprezar o que desprezvel. Para Lewis uma alma humana corretamente ordenada aquela em que a razo se submete autoridade de Deus, por um lado, e nossas emoes e apetites se submetem autoridade da razo. Com a falta de ordem adequada o subjetivismo moral aplicado na educao resulta na runa de nossa civilizao. Lewis afirma que isso ocorre porque conquistaramos nossa prpria natureza e nos tornaramos sujeitos aos caprichos da natureza material.

O resultado educao e propaganda devastadoras. Alm disso, o governo legtimo e a tirania tornam-se a mesma coisa. Isso leva a um fim horrvel na era moderna devido aos seus avanos cientficos. Os avanos combinados com um estado onicompetente usado pelos influenciadores sociais permitiro que eles faam o homem sua prpria imagem. Lewis ilustrou isso em Aquela Fortaleza Medonha com uma agncia de engenharia cientfica e social (N.I.C.E.) cuja misso era superar e subjugar a natureza com a cincia.

Para Lewis, um pr-requisito para uma boa governana o reconhecimento de um superior natural. A hierarquia um componente interno. A obedincia construda sobre isso. Isso uma deficincia da democracia. Seu efeito nivelador uma lei antinatural.

Lewis selecionou aspectos-chave das obras de John Locke e John Mill para formular uma democracia vivel: a teoria do contrato social de Locke e o princpio do dano de Mill. Lewis e Locke acreditavam que Deus era o autor da natureza humana e que toda pessoa igual diante de Deus. Ambos acreditavam que Deus havia dado ao homem uma moralidade comum a todos e no exclusiva do cristianismo. De acordo com essa moral, nenhum homem deve prejudicar outro. Essa era a espinha dorsal da teoria de Locke, que detalhava uma execuo mtua de deveres pelo governo e pelos cidados com base em suas posies. O governo deve proteger e permitir que seus cidados vivam seus direitos dados por Deus de acordo com suas preferncias individuais, e os cidados devem viver harmoniosamente sem causar danos a nenhum membro da sociedade.

Mill concordou que o governo tinha a responsabilidade de exercer seu poder sobre uma pessoa que causaria danos corporais a outro membro da sociedade. Ele fala de um limite, no entanto, para a extenso do poder de preveno de danos do governo.

Lewis adverte a Igreja da tentao de se engajar na idolatria da teocracia, o que ele chamou de o pior de todos os governos. Ele via que os cristos eram igualmente suscetveis ao abuso de poder por causa da natureza decada da humanidade. Em segundo lugar, a concepo de Lewis protege o reino da poltica.

Enfim, como chegamos at aqui? Lewis apontaria as mudanas-chave que comearam em meados do sculo XIX e continuaram por cerca de cem anos. A principal mudana uma revoluo educacional. Assim, as pessoas no conhecem o ado e no tm compreenso adequada para medir o valor do presente.

Eu no mereo uma participao no governo de um galinheiro, muito menos de uma nao. Nem a maioria das pessoas [...]. A verdadeira razo da democracia justamente o inverso. A humanidade est to decada que no se pode confiar a nenhum homem um poder ir sobre seus semelhantes

Outra mudana a proeza tecnolgica dos sculos XX e XXI: as mquinas esto sempre melhorando. A humanidade levada a pensar que quase nada pode ser transformado em quase qualquer coisa, de acordo com Lewis. Outras mudanas incluem uma nfase no conhecimento prtico sobre a sabedoria e um crescente ceticismo em relao razo.

Numa poca em que as democracias ao redor do mundo parecem menos interessadas em ser incubadoras de liberdade e mais de burocracias, a sabedoria presciente de Lewis nos ajuda a entender como e por que uma forma de governo to promissora foi to facilmente corrompida. Apesar de favorecer uma democracia liberal clssica, parecia ser uma posio padro para ele. Ele acreditava que a democracia era a nica opo vivel para obstruir a tirania poltica. Sua honestidade sobre a falta de confiabilidade da capacidade do homem de governar chocante e necessria em nossos dias.

Em Preocupaes Atuais Lewis itiu: Eu no mereo uma participao no governo de um galinheiro, muito menos de uma nao. Nem a maioria das pessoas que acreditam em anncios, em palavras de ordem e espalham boatos. A verdadeira razo da democracia justamente o inverso. A humanidade est to decada que no se pode confiar a nenhum homem um poder ir sobre seus semelhantes.

Finalmente, a palavra do profeta Isaias nos d uma recomendao sbia.

Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores, para privar os pobres dos seus direitos e da justia os oprimidos do meu povo, fazendo das vivas sua presa e roubando dos rfos! (Isaas 10:1-2)

Em quem Lewis votaria?

Suspeito que Lewis teria se consolado em sua f de que este mundo no o nico, e no o que importa, em ltima anlise.

(*) Lei Natural o que podemos chamar de jogo limpo, ou decncia, ou moralidade, ou a Lei da Natureza.

PARA QUE TODOS SEJAM UM A UNIDADE DA IGREJA POSSVEL">C. S. Lewis em de tempo eleio: O que justo versus o que funciona

Paulo F. Ribeiro

Doutor em Engenharia Eltrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelndia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajub, MG. originrio do Vale do Paje e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao

Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o top 2% dos pesquisadores de maior influncia no mundo, nas diversas reas do conhecimento. Destes, 600 cientistas so de Instituies Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi includo nesta lista relacionado a rea de Engenharia Eltrica.

Textos publicados: 78 [ver]

+tica e Comportamento +Poltica e Sociedade

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