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13 de novembro de 2014
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A Repblica que ainda no foi 6n3w4d

At ento muito popular, a monarquia tropeava em si mesma com a idade e a enfermidade do imperador D. Pedro II, alm das dvidas quanto sucesso do trono. A sua base poltica ancorada nos latifundirios do nordeste e na Igreja Catlica pelo padroado enfrentava aguda crise expressa na questo religiosa e na instabilidade dos gabinetes. O escravismo se tornava cada vez mais inconcilivel s demandas econmicas e sociais em curso. A nica monarquia escravista do continente americano caminhava para o seu fim depois de quase sete dcadas.
Se o povo assistiu bestializado a marcha do marechal Deodoro da Fonseca em direo ao pao imperial isto no significou a sua ividade. A frase do jornalista Aristides Lobo projetou a ideia da ignorncia e da aceitao sem resistncias do jogo que as foras polticas e econmicas estabeleciam naquele momento. No entanto, o que parecia ser uma mera parada militar seria um acontecimento que liberaria tenses e conflitos nos anos seguintes. Na verdade, este povo tinha outras percepes do jogo a partir do lugar de excludos polticos a que estavam sujeitos.
A cidadania da letra no se transformara em mais igualdade, distribuio de renda e participao universal nos processos de deciso poltica. A excluso como herana colonial e imperial permaneceu como a lgica na mentalidade das elites, at os nossos dias. A massa dos libertos em 1888 experimentou mais outro processo da dispora africana concentrando-se nas periferias e nos morros das favelas em formao, abandonados prpria sorte nos novos quilombos urbanos.
A instabilidade poltica foi a norma dos primeiros anos do novo regime, temeroso com a volta da monarquia, do jacobinismo dos setores mdios e das presses populares. O estado de stio imposto pelo marechal Floriano representou o autoritarismo que se imps pela fora e pela violncia do estado sobre a populao. Deu-se o fracasso econmico do encilhamento e, depois, o maior endividamento do estado, num cenrio internacional de declnio do caf que culminou na crise de 1929.
Uma sucesso de revoltas e de movimentos sociais expressou as tenses, os conflitos e a no ividade da populao diante da frustrao da repblica proclamada: a revolta da armada, os messianismos de Canudos na Bahia e de Contestado em Santa Catarina, a revolta da Vacina no Rio de Janeiro (1904) e as ondas grevistas de 1903 a 1917. Inauguraram-se os tempos do coronelismo, da poltica do caf-com-leite, da marginalizao das populaes empobrecidas e dos baixos salrios da insurgente classe operria das fbricas.
Os poucos protestantes existentes no Brasil em 1889 saudaram a repblica junto com os maons e os liberais, pois partilhavam as mesmas aspiraes quanto ao estado laico e a crtica anti-clerical ao domnio poltico e religioso da Igreja Catlica. Lideranas pastorais, entidades civis e jornais protestantes anteviram tempos de avano da pregao evanglica. Miguel Vieira Ferreira, pastor da Igreja Evanglica Brasileira, participou ativamente dos crculos republicanos e positivistas.
Com a repblica, os protestantes ansiavam por um pas mais moderno, liberal, progressista e que tivesse no protestantismo a religio coparticipante deste processo, a exemplo dos pases mais prsperos como Inglaterra e Estados Unidos. O catolicismo mostrou-se, segundo pensavam, historicamente incapaz de promover a modernidade, pois agora era a hora e a vez do protestantismo mostrar a que veio.
Este projeto civilizacional seria realizado por meio das suas escolas, da distribuio macia de Bblias, da disseminao da mensagem evanglica pelos missionrios e colportores, das associaes de moos e de moas para formar uma juventude saudvel na mente e no corpo, da imprensa, da alfabetizao dos convertidos e das denominaes com seus templos e seminrios. No entanto, os protestantes no fizeram crticas ao modelo poltico em suas contradies responsveis pela reproduo das desigualdades sociais.
Por um lado, foram 125 anos de repblica marcada pelas tentativas de controle e supresso das liberdades e da cidadania plena, a exemplo do golpe civil e militar de 1964. Por outro, foram anos de lutas por conquistas sociais e polticas, justia social e democracia. Hoje, h protestantes evanglicos que se envolvem na construo de uma sociedade mais justa e no reproduzem os discursos antidemocrticos e de medo das mudanas que transformem as pessoas em cidads, ou seja, que, de fato, faam a repblica ainda acontecer.
Referncias:
CARVALHO, Jos Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a Repblica que no foi. So Paulo: Companhia das Letras, 1987.
_________________________. A formao das almas: o imaginrio da Repblica no Brasil. So Paulo: Companhia das Letras, 1990.
_________________________. Dom Pedro II. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Lyndon de Arajo Santos historiador, professor universitrio e pastor da Igreja Evanglica Congregacional em So Lus, MA. Faz parte da Fraternidade Teolgica Latino-americana - Setor Brasil (FTL-Br).
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