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23 de maio de 2022
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A morte da famlia 4n5o1v
Por William Lane
Em 1971, o psicanalista britnico David Cooper publicou o livro The Death of the Family [A morte da famlia]. Cooper foi um dos precursores e rduo defensores do movimento antipsiquitrico. O movimento considerava que a teoria psicoanaltica dava ateno aos transtornos neurticos mais elementares e no dava conta de lidar com as enfermidades mais graves como a psicose e a esquizofrenia, o que resultava na internao dos loucos em manicmios para exclu-los da sociedade. Para o autor e o seu movimento, a institucionalizao desses indivduos tinha em sua base a classificao deles como ameaas sociedade, que por sua vez, era alimentada por uma sociedade construda a partir de uma estrutura familiar capitalista burguesa de traos claramente patriarcais e monogmicos. O movimento sustentava que na famlia, repressiva por essncia, se origina a loucura, pois sua finalidade consiste no somente de reproduzir as formas de dominao ideolgica como tambm da internalizao dessa ideologia na estrutura psquica dos indivduos1. O livro pretende ser um manifesto poltico deliberadamente contra a estrutura familiar burguesa e quer propor que uma vez abolida essa falsa estrutura familiar, s resta assegurar que nunca mais se possa restabelec-la (p. 78).

O desmantelamento da famlia
evidente que a inteno desse autor no era apenas tratar de uma nova abordagem ao tratamento de casos graves de psicose e esquizofrenia os quais a psiquiatria no dava conta. A inteno envolve uma revoluo poltica e social que interferisse diretamente na estrutura familiar.
Difcil mensurar o impacto das ideias de Cooper nas polticas e estratgicas de estados que possuem uma viso materialista histrica e at que ponto as pautas que atacam a estrutura familiar esto diretamente influenciadas por essas ideias. Mas o que se pode notar com frequncia na vida pblica que, em nome dos direitos individuais, h uma crescente e deliberada ao de diminuir a influncia dos valores e moral da famlia na sociedade e, principalmente, de redesenhar a estrutura familiar de modo a servir os interesses de uma revoluo social e poltica.
Essa obra chama a ateno para alguns fatores. Primeiro, Cooper est correto que uma sociedade se molda a partir de suas estruturas nucleares. a estrutura familiar e os valores morais que impactam em grande parte como as relaes humanas se desenvolvero na sociedade. verdade tambm que essa estrutura muitas vezes perpetua relaes no saudveis na sociedade. Cooper, entretanto, v apenas elementos nocivos da influncia da famlia no indivduo e atribui muitos males da sociedade a essa estrutura familiar.
Em segundo lugar, bvio que ao atacar a estrutura familiar e vislumbrar uma sociedade sem a famlia burguesa capitalista, Cooper defende alguma forma de estrutura social e poltica. A realidade que o desmantelamento da influncia da famlia no indivduo tem a inteno de tornar o estado a autoridade e controle absolutos sobre os indivduos. Naturalmente, isso visto como o ideal dessa perspectiva, mas no h como ignorar o objetivo de controle e dominao do estado sobre os indivduos, consequentemente, a perda no s de direitos bsicos, mas, sobretudo, da liberdade dos indivduos de pensarem, se expressarem e se constiturem como famlia.
Terceiro, no mnimo um idealismo, se no uma iluso, achar que uma vez extinta a famlia as relaes de dominao se dissiparo. Cooper quer fazer crer que a famlia refora o poder da classe dominante e serve de paradigma de controle para todas as instituies sociais, portanto, tem uma capacidade destruidora. Assim, uma vez extinta, resolve-se o problema do poder das classes dominantes. No entanto, isso no assegura em nada que uma vez desfeita a estrutura familiar, alguma outra instituio social ou ideologia no ocupe o lugar de dominao dos indivduos.
Para famlias imperfeitas (inclusive crists), a graa de Cristo
Na perspectiva crist, a famlia vista positivamente como uma estrutura que proporciona vivncia e experincias para o desenvolvimento dos indivduos e, consequentemente, da sociedade. verdade que no a famlia em si que garante a sade emocional, fsica e espiritual dos indivduos, da igreja e da sociedade. Somente a graa de Deus e a conformidade com o carter de Cristo que, em ltima instncia, moldam a maturidade do indivduo. Infelizmente, h tambm no meio cristo muitas vezes uma idealizao da famlia que pode levar estigmatizao e marginalizao de famlias que no se enquadrem ao modelo ideal cristo. Isso tambm sinal de uma estrutura doentia. O fato de nossas igrejas terem famlias predominantemente compostas pelo ncleo familiar do pai, me e/ou filhos no diz que os cristos so, em geral, formados de famlias nucleares equilibradas; pelo contrrio, pode dizer que nossas comunidades no do espao para famlias de composio diversa ou tidas como disfuncionais pelos padres cristos. Mas a resposta no deve ser abolir a famlia ou abolir as igrejas que no acolhem famlias destrudas, por qualquer motivo que seja. A resposta deve necessariamente ar pela graa restauradora de Cristo dos indivduos, famlias e de uma sociedade disfuncional.
Mesmo a famlia crist pode perpetuar relaes no saudveis, pois ela formada de pessoas imperfeitas e afetadas pelo pecado humano. No aprendemos apenas o amor, a solidariedade, a fraternidade, a cooperao, o perdo, as prticas espirituais e o servio cristo na famlia. Aprendemos tambm o egosmo, o individualismo, a rivalidade, a dominao, a manipulao, a espiritualizao de nossas doenas, o materialismo e tantos outros males. Por isso, carecemos continuamente do amor, do perdo, da graa e da instruo de Cristo em nossas vidas. Acima de tudo, precisamos continuar acreditando na famlia como ddiva de Deus e como importante clula da sociedade, e no acreditar que seja uma estrutura ultraada para um estado moderno que se institui como defensor dos direitos individuais contra a influncia da famlia.
Nota
1 Cooper, D. La muerte de la famlia. Cidade do Mxico: Editorial Planeta, 1986.
Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, professor e capelo no Seminrio Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teolgicas. autor do livro O propsito bblico da misso.
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