Opinio 3pp3w
20 de dezembro de 2021
- Visualizaes: 8759
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
A mensagem crist de carne e osso d4y48
Por Bernardo Cho
O que era desde o princpio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mos apalparam isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. A vida se manifestou; ns a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocs a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada. Ns lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocs tambm tenham comunho conosco. Nossa comunho com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. Escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa. 1 Joo 1.1-4
Nunca tivemos o a meios to variados de transmisso de ideias e informaes. Contudo, embora quase todos os habitantes da terra enxerguem esse fenmeno com grande entusiasmo, qualquer pessoa que se ocupa em proclamar o evangelho deve se perguntar o que de fato est em jogo para a mensagem crist quando nos rendemos cegamente a essa revoluo comunicativa. Ser que a nica diferena entre pregar a Cristo e falar de qualquer outro assunto (por exemplo, poltica, culinria ou finanas) o contedo, no importando o meio de comunicao que utilizamos, desde que a ideia e a informao que queremos transmitir cheguem at nosso pblico?
O Natal nos oferece recursos fundamentais para refletirmos sobre essa questo, j que esta data nos recorda de um dos eventos mais importantes da histria: a encarnao o momento em que o prprio Deus entrou no enredo da salvao para cumprir seus planos redentivos e, assim, comunicar o cerne de seu carter de uma vez por todas ao seu povo.
O autor de 1 Joo 1.1-4 proclamava a mensagem crist em um contexto onde circulavam algumas ideias e informaes falsas acerca de Jesus. Tais ideias e informaes eram falsas, porm, no somente em termos de contedo, mas tambm em sua contradio do meio de comunicao escolhido por Deus para se revelar definitivamente humanidade. Joo supervisionava igrejas na sia Menor, sobre as quais certos padres de pensamento oriundos da cultura helenstica exerciam grande influncia. Alguns gregos acreditavam que o mundo material era qualitativamente inferior dimenso invisvel das coisas, o que no raro encorajava uma postura de menosprezo pela realidade visvel, material, fsica. Nesse ambiente, ento, algumas dcadas aps a chegada do evangelho naquela regio, certas pessoas aram a acomodar a mensagem crist ideia de que o que importava de verdade era o etreo ou, na linguagem que muitos hoje ainda teimam em empregar, o mundo espiritual. Afinal, a mensagem de um Deus que se fez ser humano, visvel, material, fsico, para nos salvar por meio de seu prprio sangue, era absurda demais para aquelas mentes ocupadas com especulaes metafsicas.
Como resultado, perto do final do primeiro sculo, Joo deparou com verses embrionrias de uma heresia que veio a ser depois denominada docetismo. O termo docetismo vem do grego dkēsis, que significa aparncia, e no cerne do que os hereges dos dias de Joo pregavam estava a ideia de que a humanidade de Jesus, principalmente seus sofrimentos, aconteceram somente na aparncia. Ou seja, a nica coisa que importava eram os ensinamentos espirituais de Jesus, enquanto sua existncia humana no ava de uma iluso de tica. (Suspeito que esses hereges, se vivessem em nosso tempo, seriam grandes entusiastas da construo de igrejas no metaverso.) E, como resultado de seu desprezo pela encarnao, esse grupo ou a pregar, primeiro, que o evangelho se resumia a um contedo que apenas os ungidos recebiam por meio de experincias subjetivas, como se o mundo espiritual transferisse ideias e informaes sobre Jesus por uma espcie de , e, segundo, que a qualidade das relaes dos crentes tinha valor secundrio na caminhada crist. Isso explica por que, em 1 Joo, o autor inspirado insiste que qualquer doutrina que no esteja centralizada na encarnao em essncia anticrist (1Jo 2.18-25; 5.1-12), que a verdadeira uno aquela que deriva do ensino apostlico (1Jo 2.26-27), e que quem no ama a comunidade da f sequer conhece a Deus (1Jo 3.11-20; 4.7-21).
por isso que Joo inicia sua carta dizendo que a mensagem crist est necessariamente ancorada no evento histrico em que Deus se revelou a ns, em carne e osso, na pessoa de Jesus. Porque a Palavra da Vida no um contedo abstrato que Deus transmitiu humanidade por algum mtodo impessoal de comunicao, mas uma realidade que se fez visvel no semblante de seu Filho: O que era desde o princpio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mos apalparam isto proclamamos a respeito da Palavra da vida (1Jo 1.1). A mensagem crist, em outras palavras, envolve, sim, a transmisso de ideias e informaes, mas ela muito mais que ideias e informaes: ela diz respeito a uma pessoa que viveu no tempo e no espao, entre seu povo. O prlogo do Evangelho de Joo vai na mesma direo: a Palavra tornou-se carne e viveu entre ns (Jo 1.14).
Assim, para Joo, to essencial quanto anunciar o contedo do evangelho afirmar o meio de comunicao que Deus usou para transmitir essa mensagem humanidade. Ou melhor: porque a mensagem crist diz respeito a uma pessoa que viveu entre seus discpulos, o contedo da mensagem crist diz respeito tambm forma como essa mensagem foi transmitida por Deus. Parte fundamental do evangelho que, em vez de ter sido assistido pela tela de um dispositivo eletrnico, ele foi contemplado, observado e at mesmo apalpado na vida real por aqueles que encontraram Jesus. O evangelho a comunicao final de Deus aconteceu em uma vida que foi vivida: A vida se manifestou; ns a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocs a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada (1.2).
luz disso, necessrio enfatizar que a encarnao tem fora normativa nossa proclamao. O Natal nos lembra de que a mensagem crist no um mero conjunto de ideias ou informaes que pode ser ensinado alm das aparncias muito menos aprendido em sua totalidade pelo WhatsApp, pelo Youtube, ou pelo Instagram. impossvel viver o discipulado de maneira completa por EAD, por lives ou por qualquer outra espcie de interao virtual. Da mesma maneira que s pode haver vida eterna aos crentes porque Deus se materializou na pessoa de Jesus, nossa proclamao jamais pode estar divorciada do imperativo de encarnarmos o evangelho. Pregar a palavra de Deus envolve a transmisso de ideais e informaes, mas j que essas ideias e informaes dizem respeito a uma pessoa, a palavra de Deus s transmitida fielmente quando ela acompanhada de vidas que exemplificam o evangelho. Essa a razo de Joo colocar toda a nfase da comunicao da Palavra da Vida no contexto da comunidade da f: Ns lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocs tambm tenham comunho conosco. Nossa comunho com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. (1.3). O evangelho bblico sempre desemboca em uma vida encarnada de discipulado, em comunidade, na comunho com a Trindade e com os redimidos pelo sangue de Cristo.
Bernardo Cho PhD em Linguagem, Literatura e Teologia do Novo Testamento pela Universidade de Edimburgo, professor de Novo Testamento e coordenador dos Estudos Doutorais em Ministrio no Seminrio Teolgico Servo de Cristo, e pastor da igreja Presbiteriana do Caminho.
Leia mais:
A encarnao de Cristo, por C. S. Lewis
O que era desde o princpio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mos apalparam isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. A vida se manifestou; ns a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocs a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada. Ns lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocs tambm tenham comunho conosco. Nossa comunho com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. Escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa. 1 Joo 1.1-4

O Natal nos oferece recursos fundamentais para refletirmos sobre essa questo, j que esta data nos recorda de um dos eventos mais importantes da histria: a encarnao o momento em que o prprio Deus entrou no enredo da salvao para cumprir seus planos redentivos e, assim, comunicar o cerne de seu carter de uma vez por todas ao seu povo.
O autor de 1 Joo 1.1-4 proclamava a mensagem crist em um contexto onde circulavam algumas ideias e informaes falsas acerca de Jesus. Tais ideias e informaes eram falsas, porm, no somente em termos de contedo, mas tambm em sua contradio do meio de comunicao escolhido por Deus para se revelar definitivamente humanidade. Joo supervisionava igrejas na sia Menor, sobre as quais certos padres de pensamento oriundos da cultura helenstica exerciam grande influncia. Alguns gregos acreditavam que o mundo material era qualitativamente inferior dimenso invisvel das coisas, o que no raro encorajava uma postura de menosprezo pela realidade visvel, material, fsica. Nesse ambiente, ento, algumas dcadas aps a chegada do evangelho naquela regio, certas pessoas aram a acomodar a mensagem crist ideia de que o que importava de verdade era o etreo ou, na linguagem que muitos hoje ainda teimam em empregar, o mundo espiritual. Afinal, a mensagem de um Deus que se fez ser humano, visvel, material, fsico, para nos salvar por meio de seu prprio sangue, era absurda demais para aquelas mentes ocupadas com especulaes metafsicas.
Como resultado, perto do final do primeiro sculo, Joo deparou com verses embrionrias de uma heresia que veio a ser depois denominada docetismo. O termo docetismo vem do grego dkēsis, que significa aparncia, e no cerne do que os hereges dos dias de Joo pregavam estava a ideia de que a humanidade de Jesus, principalmente seus sofrimentos, aconteceram somente na aparncia. Ou seja, a nica coisa que importava eram os ensinamentos espirituais de Jesus, enquanto sua existncia humana no ava de uma iluso de tica. (Suspeito que esses hereges, se vivessem em nosso tempo, seriam grandes entusiastas da construo de igrejas no metaverso.) E, como resultado de seu desprezo pela encarnao, esse grupo ou a pregar, primeiro, que o evangelho se resumia a um contedo que apenas os ungidos recebiam por meio de experincias subjetivas, como se o mundo espiritual transferisse ideias e informaes sobre Jesus por uma espcie de , e, segundo, que a qualidade das relaes dos crentes tinha valor secundrio na caminhada crist. Isso explica por que, em 1 Joo, o autor inspirado insiste que qualquer doutrina que no esteja centralizada na encarnao em essncia anticrist (1Jo 2.18-25; 5.1-12), que a verdadeira uno aquela que deriva do ensino apostlico (1Jo 2.26-27), e que quem no ama a comunidade da f sequer conhece a Deus (1Jo 3.11-20; 4.7-21).
por isso que Joo inicia sua carta dizendo que a mensagem crist est necessariamente ancorada no evento histrico em que Deus se revelou a ns, em carne e osso, na pessoa de Jesus. Porque a Palavra da Vida no um contedo abstrato que Deus transmitiu humanidade por algum mtodo impessoal de comunicao, mas uma realidade que se fez visvel no semblante de seu Filho: O que era desde o princpio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mos apalparam isto proclamamos a respeito da Palavra da vida (1Jo 1.1). A mensagem crist, em outras palavras, envolve, sim, a transmisso de ideias e informaes, mas ela muito mais que ideias e informaes: ela diz respeito a uma pessoa que viveu no tempo e no espao, entre seu povo. O prlogo do Evangelho de Joo vai na mesma direo: a Palavra tornou-se carne e viveu entre ns (Jo 1.14).
Assim, para Joo, to essencial quanto anunciar o contedo do evangelho afirmar o meio de comunicao que Deus usou para transmitir essa mensagem humanidade. Ou melhor: porque a mensagem crist diz respeito a uma pessoa que viveu entre seus discpulos, o contedo da mensagem crist diz respeito tambm forma como essa mensagem foi transmitida por Deus. Parte fundamental do evangelho que, em vez de ter sido assistido pela tela de um dispositivo eletrnico, ele foi contemplado, observado e at mesmo apalpado na vida real por aqueles que encontraram Jesus. O evangelho a comunicao final de Deus aconteceu em uma vida que foi vivida: A vida se manifestou; ns a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocs a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada (1.2).
luz disso, necessrio enfatizar que a encarnao tem fora normativa nossa proclamao. O Natal nos lembra de que a mensagem crist no um mero conjunto de ideias ou informaes que pode ser ensinado alm das aparncias muito menos aprendido em sua totalidade pelo WhatsApp, pelo Youtube, ou pelo Instagram. impossvel viver o discipulado de maneira completa por EAD, por lives ou por qualquer outra espcie de interao virtual. Da mesma maneira que s pode haver vida eterna aos crentes porque Deus se materializou na pessoa de Jesus, nossa proclamao jamais pode estar divorciada do imperativo de encarnarmos o evangelho. Pregar a palavra de Deus envolve a transmisso de ideais e informaes, mas j que essas ideias e informaes dizem respeito a uma pessoa, a palavra de Deus s transmitida fielmente quando ela acompanhada de vidas que exemplificam o evangelho. Essa a razo de Joo colocar toda a nfase da comunicao da Palavra da Vida no contexto da comunidade da f: Ns lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocs tambm tenham comunho conosco. Nossa comunho com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. (1.3). O evangelho bblico sempre desemboca em uma vida encarnada de discipulado, em comunidade, na comunho com a Trindade e com os redimidos pelo sangue de Cristo.
Portanto, neste perodo em que celebramos o Natal enquanto ao mesmo tempo navegamos essa exploso de novas tecnologias de comunicao, vital que jamais deixemos de ancorar a proclamao da mensagem crist na encarnao. O evangelho nunca deve ser reduzido a um contedo que pode ser transmitido instantaneamente pelas redes virtuais. O evangelho uma pessoa que caminhou na Palestina dois milnios atrs e que continua a se fazer conhecido conforme sua graa trabalha na vida daqueles que o seguem. este ponto, ento, que o Natal nos encoraja a nunca perder de vista: o meio de comunicao definitivo de Deus foi, e continua a ser, a encarnao. Deus se comunicou de uma vez por todas em Jesus na vida que ele viveu, na morte que ele sofreu e na ressurreio que ele recebeu. E Deus continua a se comunicar por meio daqueles que seguem a Jesus, que a Palavra encarnada.
Dessa maneira, a igreja pode at se apropriar dos muitos meios lcitos de transmisso do evangelho disponveis hoje. Mas a igreja, que no por mera coincidncia tambm chamada de corpo de Cristo, jamais deve se esquecer de que ela o meio de comunicao das verdades de Deus. O apstolo Paulo, autor de grande parte das cartas que compem o Novo Testamento, explica que mediante a igreja que a multiforme sabedoria de Deus se torna conhecida dos poderes e autoridades nas regies celestiais (Ef 3.10). E o mesmo Paulo exorta seus leitores a serem seus imitadores, assim como ele de Cristo (cf. 1Co 11.1). Ningum discute a importncia das epstolas paulinas como veculos de comunicao do pensamento apostlico. No entanto, o paradigma mximo da proclamao da mensagem crist a encarnao. O Criador do universo se comunicou em carne e osso. Que sua graa nos ajude a proclam-lo seguindo o exemplo que ele mesmo deixou.Bernardo Cho PhD em Linguagem, Literatura e Teologia do Novo Testamento pela Universidade de Edimburgo, professor de Novo Testamento e coordenador dos Estudos Doutorais em Ministrio no Seminrio Teolgico Servo de Cristo, e pastor da igreja Presbiteriana do Caminho.
Leia mais:
A encarnao de Cristo, por C. S. Lewis
20 de dezembro de 2021
- Visualizaes: 8759
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
QUE BOM QUE VOC CHEGOU AT AQUI. 223i1k
Ultimato quer falar com voc.
A cada dia, mais de dez mil usurios navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, alm do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bblicos, devocionais dirias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, alm de artigos, notcias e servios que so atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.

Leia mais em Opinio 2l1v6s

Opinio do leitor 1t5dh
Para comentar necessrio estar logado no site. Clique aqui para fazer o ou o seu cadastro.
Ainda no h comentrios sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta necessrio estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o ou seu cadastro.
Ainda no h artigos publicados na seo "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em ltimas 6ik57
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu h...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e Histria
- Casamento e Famlia
- Cincia
- Devocionrio
- Espiritualidade
- Estudo Bblico
- Evangelizao e Misses
- tica e Comportamento
- Igreja e Liderana
- Igreja em ao
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Poltica e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Sessenta +
- Srie Cincia e F Crist
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Crist
Revista Ultimato 5z423b
+ lidos 1s1q68
- Francisco, Samuel Escobar memria e honra
- Os Jardins do den e a Sombra de Abel: uma jornada pela aposentadoria
- Abel e Zacarias: encontrando misso na aposentadoria avanada
- Paul Tournier e a Bblia
- Filme Jesus traduzido para a 2.200 lngua, o Bouna
- Gerao Z lidera reavivamento da igreja no Reino Unido
- A srie Adolescncia um grito de socorro
- Eu [quase] me arrependi de ter tido filhos
- Um panorama da distribuio da Bblia no Brasil nos ltimos 70 anos
- Esperana utilizvel