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24 de janeiro de 2011
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Uma entrevista com a morte, a amante do pecado 2b585

Abertos estes precedentes, Ultimato tambm trata a morte como se fosse uma pessoa e faz com ela a seguinte entrevista:
I.
A Mais Teimosa e Iniludvel Manifestao da Finitude e Impotncia Humana
Reprter - Quem voc?
Morte - Sou a amsia do pecado.
Reprter - No entendo.
Morte - Deus no me incluiu em seus planos na criao do homem. O pecado foi o cavalo de Tria para me introduzir na criao de Deus.
Reprter - Desde quando?
Morte - Desde a queda.
Reprter - O que voc chama de queda?
Morte - A besteira que o homem cometeu no jardim do den.
Reprter - A ingesto do fruto da rvore do conhecimento do bem e do mal?
Morte - No.
Reprter - Ento, o que foi?
Morte - O que aconteceu antes da ingesto do fruto proibido: a arrogncia do homem de querer ser igual a Deus e a subseqente desobedincia.
Reprter - Quer dizer que voc to velha quanto o homem?
Morte - Assim diz a Escritura: O pecado entrou no mundo por meio de um s homem e o pecado trouxe a morte (Rm 5.12).
Reprter - O que voc pretende?
Morte - Meu propsito tem sido provocar a cessao definitiva de todos os atos cujo conjunto constitui a vida dos seres organizados, isto , a desintegrao somatopsquica, que reduz o corpo humano ao estado de putrefao, ao esqueleto e, por fim, ao p.
Reprter - E voc se gloria disso?
Morte - Eu me glorio em ser a mais teimosa e iniludvel manifestao da finitude e impotncia humana.
Reprter - Sem excees?
Morte - No ito excees. Sou um fenmeno universal. Veja como termina o primeiro livro da Bblia, aquele que narra a criao dos cus e da terra e o incio da vida: Morreu Jos da idade de cento e dez anos, embalsamaram-no e o pam num caixo no Egito (Gn 50.26).
Reprter - Quer dizer que ningum escapa sua fria?
Morte - Respondo com a sua Bblia: Ningum pode dominar o vento nem segur-lo. Assim tambm ningum pode evitar a morte nem deix-la para outro dia. O pregador ainda acrescenta: Ns temos de enfrentar esta batalha, e no h jeito de escapar (Ec 8.8 em A Bblia na Linguagem de Hoje).
Reprter - Voc concorda com a afirmativa de Salomo de que os vivos sabem que ho de morrer (Ec 9.5)?
Morte - No fundo todos sabem. Muitos, todavia, afastam de si essa certeza e vivem como se nunca fossem morrer.
Reprter - No tambm o seu caso?
Morte - Tapar o sol com peneira um expediente antigo e vlido. como o placebo.
II.
O Rei dos Terrores
Reprter - Tem idia de quantas vtimas voc faz por hora?
Morte - Seria preciso contar. Todavia, escreve a 1.400 mortes por hora ao redor do mundo.
Reprter - Parece que esse nmero era bem maior h trinta anos atrs.
Morte - Na dcada de 1960 eu fazia 4.500 mortes por hora, trs vezes mais.
Reprter - O que est acontecendo?
Morte - A expectativa de vida ao nascer est aumentando em quase todos os pases do mundo. No Japo era de 78 anos em 1988. Cinco anos depois subiu para 80 anos. No caso do Brasil, a elevao foi de 65 para 67 anos no mesmo perodo.
Reprter - Voc v o avano da medicina e a melhoria da qualidade de vida como ameaas?
Morte - No recebo ameaas de ningum. Tenho sido campe invicta. Sou incorrigivelmente inexorvel. O mximo que a cincia consegue me conservar afastada apenas por algum tempo. A vitria final sempre minha.
Reprter - s vezes me parece que voc no est dando conta. O saldo entre os que nascem e os que morrem enorme: na ordem de 9.300 novos habitantes do planeta por hora. A populao do mundo est aumentando muito: ramos 3,2 bilhes em 1975 e agora somos 5,6 bilhes. Quando os recm-nascidos de hoje tiverem 65 anos, o mundo ter cerca de 11 bilhes de habitantes.
Morte - No obstante, a vida humana continua sob o meu poder.
Reprter - muita presuno.
Morte - No me desculpo.
Reprter - Lamenta-se por a que voc entra sem ser convidada, no avisa quando vem, mete-se em ambientes reservados...
Morte - Voc est querendo citar o profeta Jeremias, que disse a meu respeito: A morte subiu pelas nossas janelas, e entrou em nossos palcios, exterminou das ruas as crianas, e os jovens das praas (Jr 9.11). Sou mesmo rude. E tambm implacvel. Um dos amigos de J me chamou com muito acerto de O rei dos terrores (J 18.14).
Reprter - H alguma coisa mais amarga do que a morte?
Morte - No creio, embora um dos sbios de Israel, que tinha muita implicncia contra as mulheres adlteras e prostitutas, tenha dito que um certo tipo de mulher mais amarga do que a morte.
Reprter - Que mulher?
Morte - A mulher cujo corao so redes e laos, e cujas mos so grilhes (Ec 7.26). A tal mulher cujos lbios destilam favos de mel e cujas palavras so mais suaves do que azeite, mas cujo fim amargoso como o absinto e agudo como a espada de dois gumes (Pv 5.3-4).
III.
Pior do que Herodes
Reprter - Quais instrumentos voc usa para colher tanta gente em todos os quadrantes da terra em to pouco tempo?
Morte - Os mais variados e originais possveis. Aqui est uma listagem, talvez incompleta: 1) Os flagelos naturais, como abalos ssmicos, enchentes, furaces, seca, etc. S o terremoto de 1556 em Shensi, na China, matou 850.000 pessoas. 2) Os acidentes de trabalho e de trnsito. Em 1995, 4.000 brasileiros morreram em acidentes de trabalho e 42.000 americanos perderam a vida na chamada epidemia das rodovias. 3) Os conflitos blicos, entre nao e nao, entre etnia e etnia dentro de um mesmo pas, e entre oprimidos e opressores. As 130 guerras havidas nos primeiros setenta anos do presente sculo me renderam 90 milhes de mortos. 4) O crime organizado. A cada ano 47.000 brasileiros so assassinados. Mais da metade (66%) dos jovens entre 20 e 29 anos esto entre os mortos. Alis, a minha estria deu-se atravs de um crime de morte, quando Caim matou a Abel. 5) Os excessos e os vcios do prprio homem. S o cigarro antecipa a morte em quinze anos e mata 100.000 pessoas por ano. 6) As enfermidades velhas e novas a que todos esto sujeitos. No incio deste sculo a pneumonia e a tuberculose eram meus instrumentos mais eficazes. Na dcada de 70, as doenas cardacas e os tumores malignos tomaram o lugar da pneumonia e da tuberculose. Estou trazendo de volta a tuberculose, que j est matando 2,2 milhes de pessoas a cada ano. A grande novidade foi a epidemia da Aids, introduzida na dcada de 80. A cada dia surgem 7.500 novos infectados pelo virus da Aids ao redor do mundo. A morte deles j est decretada, pode ocorrer daqui a onze meses, como em geral acontece com os doentes da cidade de So Paulo, ou daqui a 42 meses, como acontece com os doentes da cidade de So Francisco da California.
Reprter - Parece que voc no tem tido muito xito atravs das mortes provocadas por acidentes areos. No ano ado apenas 200 americanos morreram vtimas de algum desastre de avio.
Morte - Em compensao, no mesmo perodo, 800 americanos perderam a vida por causa de objetos que caram em suas cabeas e 300 porque escorregaram na banheira.
Reprter - Voc falou em instrumentos variados e originais. O que voc quer dizer com instrumentos originais?
Morte - Quero dizer que alguns dos meus mortos procedem de pena capital, imposta pelo governo de alguns pases. S no ano ado, a China mandou executar 2.190 pessoas, a Arbia Saudita 192 e os Estados Unidos 56.
Reprter - Em Serra Leoa, 164 crianas em 1.000 morrem antes de comemorar seu primeiro aniversrio. Em Nger, 320 crianas em 1.000 morrem antes de atingir a idade de cinco anos. Essa matana de inocentes no lhe causa repugnncia?
Morte - No sou melhor que Herodes, que mandou matar todas as crianas do sexo masculino de dois anos para baixo, residentes em Belm e seus arredores. Quero ser pior.
Reprter - por esta razo que voc arranca do ventre materno criancinhas ainda em formao e apressa a morte dos que esto morrendo?
Morte - Chamo o primeiro caso de aborto, isto , a interrupo da gravidez ou daquele processo de tecer a criana no seio da me, que o Salmo de Davi denomina romanticamente de algo assombrosamente maravilhoso (Sl 139.14). S na Inglaterra e no Pas de Gales, j foram realizados mais de quatro milhes de abortos, de 1967 a 1993. Chamo o segundo caso de eutansia, isto , a ao ou omisso que produzem a morte pela sua prpria natureza.
Reprter - A morte por suicdio escapa de sua jurisdio?
Morte - No. apenas um mtodo econmico de matar, no qual o agente e o paciente so a mesma pessoa, num clima de ausncia de lucidez e de liberdade. No ano ado 22.445 japoneses deram cabo s suas prprias vidas.
IV.
A Morte da Morte
Reprter - O que voc acha das sociedades crinicas?
Morte - A Cincia jamais conseguir reviver um cadver, mesmo protegido da putrefao por se encontrar em suspenso crinica.
Reprter - Como voc encara os casos de ressurreio havidos nos tempos bblicos, especialmente na poca de Jesus?
Morte - Lembre-se de que todos os ressuscitados tornaram a morrer depois de alguns anos a mais de vida.
Reprter - E o caso de Jesus? Est escrito que ele ressuscitou dentre os mortos, apareceu vivo com muitas provas incontestveis durante quarenta dias e, depois, foi assunto ao cu, onde se encontra ao lado direito de Deus.
Morte - No acredito nessas coisas. O cristianismo est mesclado de mitos.
Reprter - No acredita ou foge delas?
Morte - emos para a prxima pergunta.
Reprter - Qual o versculo da Bblia que voc mais aprecia?
Morte - esta palavra de Paulo: A morte se espalhou por toda a raa humana porque todos pecaram (Rm 5.12).
Reprter - E o de que voc menos gosta?
Morte - Todo o 15 captulo da Primeira Epstola de Paulo aos Corntios, especialmente o verso 26: O ltimo inimigo a ser destrudo a morte.
Reprter - Por qu?
Morte - Porque esse versculo d uma esperana ilusria.
Reprter - No ilusria. Ela coerente com a natureza de Deus, com a histria da revelao e com a aspirao escondida no corao humano de que a morte no a ltima pgina do livro da vida. Oitenta por cento da humanidade acredita na sobrevivncia depois da morte.
Morte - Baseando-se em qu?
Reprter - Uma grande parte baseia-se na vitria de Jesus.
Morte - Que vitria?
Reprter - Estamos invertendo os papis. Sou eu quem fao as perguntas e no voc. Mas deixa ficar. Eu respondo. A vitria de Jesus a sua encarnao, a sua vida sem contaminao do pecado, a sua morte vicria, a sua espetacular ressurreio ao terceiro dia. A vitria de Jesus o vu do templo rompido de alto a baixo. A vitria de Jesus a viabilidade do perdo a todo aquele que se arrepende de seus pecados e cr nele. A vitria de Jesus est nesta declarao dele mesmo: Eu sou a ressurreio e a vida (Jo 11.25). Voc a anti-vida e ele a ressurreio. Voc a morte e ele a vida. No toa que voc detesta o captulo 15 da Primeira Epstola aos Corntios, pois l est escrito que a morte veio por meio da desobedincia de Ado, o tal cavalo de Tria que voc mencionou, mas a ressurreio dos mortos veio por meio de Jesus (1 Co 15.21).
Morte - Voc me deixa brava.
Reprter - E voc me obriga a dizer-lhe: Quando este corpo corruptvel se revestir da incorruptibilidade, e o que mortal se revestir de imortalidade, ento se cumprir a palavra que est escrita: Tragada foi a morte pela vitria. Onde est, morte a tua vitria? onde est, morte, o teu aguilho? Graas a Deus que nos d a vitria por intermdio de nosso Senhor Jesus Cristo. (1 Co 15.54-57.)
Morte - Voc est falando da minha prpria morte?
Reprter - Isso mesmo. No novo cu e na nova terra, na nova ordem, a morte j no existir, j no haver luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas aram (Ap 21.4).
Elben Csar, Revista Ultimato, nov. 1972, ed. 55, p. 4.
Elben Magalhes Lenz Csar foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato at a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evanglico de Misses e pastor emrito da Igreja Presbiteriana de Viosa (IPV), autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Fao o Que No Quero?, Refeies Dirias com Jesus, Mochila nas Costas e Dirio na Mo, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeies Dirias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, Histria da Evangelizao do Brasil e Prticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso Csar, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
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