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28 de junho de 2022
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Uma comemorao musical do bicentenrio da independncia do Brasil 86k5g

PorRolando de Nassau

Sine scientia ars nihil est

noite de 7 de junho de 2022, no Auditrio ber Vasconcelos, realizou-se uma das comemoraes do bicentenrio da independncia do Brasil (7/9/2022), contando com o apoio logstico de Esdras Alves Rocha Queiroz, vice-presidente da Igreja Memorial Batista e presidente da Faculdade Teolgica Batista de Braslia. O intelectual polivalente maestro Malcolm Forest teve a iniciativa de promover este memorvel evento cultural.

Em conformidade com a praxe protocolar, o pblico e a orquestra executaram o Hino Nacional, msica de Francisco Manuel da Silva (1831) e letra de Joaquim Osrio Duque Estrada (1922).

Considerando a precedncia biogrfica e artstica, faremos alguns comentrios a respeito dos protagonistas do concerto.

Ludwig van Beethoven (1770-1827)

Talvez em nenhum perodo da histria do Ocidente a msica teve o desenvolvimento do estilo que concorria com a maturao de um compositor.

Beethoven foi um compositor que trabalhou quando a msica erudita era menos ligada aristocracia e Igreja; ele procurava um pblico ainda maior. Humanista, acreditava na igualdade entre os homens e na fora do carter humano.

Comps obras de grande envergadura, como os cinco concertos para piano. O de no. 5, em mi bemol maior, opus 73, composto em 1809, est entre as suas mais importantes obras.

Em 1987 um crtico escreveu que no precisava do Concerto no. 5 (Imperador) de Beethoven, se existia o Concerto no. 26 (Coroao, K-537) composto por Mozart em homenagem a Leopold II, na esperana de obter uma nomeao imperial.

Durante a invaso napolenica de Viena, Beethoven elaborou este concerto, impropriamente chamado de Imperador, pois ele estava respondendo, como protesto, s conquistas de Napoleo; entretanto, era uma apoteose do conceito militar, conhecido e estimado desde essa poca pelos vienenses.

Beethoven desejava descrever a ascenso vitoriosa de um heri, por isso a msica caracteriza-se pelo ambiente herico.

Em Viena, em 1812, este concerto encontrou pouca aprovao por causa da durao incomum (40 minutos).

Comea com uma imponente cadncia do piano; o mais difcil dos movimentos. No primeiro, o piano se alterna com a orquestra; o tema, Imperador, apresentado pela orquestra; em seguida, o piano acompanhado pela orquestra; aos 17 minutos da execuo, surge a clebre cadena pianstica (concluso de uma frase, que define a tonalidade de um trecho ou aquele que vir a seguir).

No segundo, uma marcha fnebre (Beethoven estava insinuando que a glria, era sucedida pela morte, inexorvel, dos ditadores); essa marcha quase um coral de J.S.Bach, pois os peregrinos so piedosos.

No terceiro, o movimento muito vigoroso.

Coube ao pianista lvaro Siviero e Orquestra Sinfnica de Braslia, sob a regncia do maestro Cludio Cohen, a execuo do Concerto de Beethoven. Depois de ouvir as interpretaes de Rudolf Buchbinder, Maurizio Pollini, Alfred Brendel, Emil Gilels, Mitsuko Uchida e Cludio Arrau, creio ser de inteira justia incluir o nome de lvaro Siviero entre os grandes intrpretes de Beethoven.

Em 10 de maio de 1958, pela primeira vez, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, observei o desempenho pianstico do jovem Friedrich Gulda (1930-2000), acompanhado pela Orquestra Sinfnica Brasileira e conduzido por Eleazar de Carvalho. Gulda era importante intrprete das sonatas de Beethoven.

Tendo mais de uma dcada de experincia na Orquestra fundada por Cludio Santoro, e sido aluno do maestro Emlio de Csar, Cludio Cohen vem realizando um notvel trabalho de recuperao da Sinfnica do Teatro de Braslia.

Pedro I (1798-1834)

Prncipe regente (1821-1822), imperador do Brasil (1822-1831) e rei de Portugal (1826), foi compositor, clarinetista e executante de outros instrumentos musicais; recebeu em Lisboa as primeiras noes musicais de Jos Maurcio Nunes Garcia e de Marcos Portugal, e de Sigismund Neukomm, no Rio de Janeiro.

Comps um Te Deum (1821), o Hino da Constituio (1822), o Hino da Independncia (1823), um Credo (1829) e a abertura orquestral Independncia (1832).

Um coro misto cantou o Te Deum laudamus (primeira execuo pblica em Braslia) e o Gloria in excelsis Deo; este foi composto em homenagem ao papa (1823-1829) Leo XII; o coro era integrado por elementos do Ad Infinitum e do Madrigal dirigidos por Eldom Soares.

A orquestra executou aberturas para comemorar este evento cvico, de Joo de Deus Castro Lobo e Marcos Portugal.

Com o pianista lvaro Siviero, coro e orquestra, de Pedro I ouvimos a fantasia (pea instrumental para evocar algum acontecimento) Libertas, Brasil.

O Hino da Independncia, com letra do jornalista Evaristo da Veiga, foi cantado pelo coro.

De Malcolm Forest tivemos, em primeira audio, Mater e Magistra, talvez inspirada pelo documento pontifcio homnimo publicado em 1961 pelo papa Joo XXIII, e Terra de Santa Cruz.

Tambm seria apropriado (embora nostlgico) cantar o Hino Nacional Evanglico, letra do pastor Guaracy Silveira acompanhada pela msica de Francisco Manuel da Silva.

Comemorando o sesquicentenrio da independncia, em 3 de setembro de 1972 o pastor ber Vasconcelos, em sua mensagem Igreja Memorial, declarou: Mais do que independncia ou morte, estamos precisando de independncia e vida.

Um povo, s se torna digno de suas tradies e de sua histria, se for efetivamente livre. O Sete de Setembro o clmax da independncia em cujo bojo se encontra o amor pela liberdade. Nossos anteados foram os heris da histria. Que desaparea aquilo que sempre foi uma chaga no organismo da nacionalidade, o desnvel social no apenas a emancipao poltica e social. Precisamos alinhar ao desenvolvimento o sentido espiritual s em Cristo a liberdade atinge esse sentido. Tiradentes declarou: Liberdade, ainda que tardia.

Nessa ocasio, o pastor ber segredou-me a respeito da realizao do culto cvico no santurio do Templo; deveria haver no campus da Memorial um prdio especialmente dedicado a manifestaes culturais (musicais, literrias e outras). (Ver: Vasconcelos, ber. Mensagens memorveis. Braslia, 2001).

Somente em julho de 1990 foi possvel a inaugurao do auditrio sonhado por ber Vasconcelos.

Ao final do programa, tivemos a boa notcia de que, 50 anos depois de suas candentes palavras proferidas em setembro de 1972, os brasileiros ainda desejam, potica e musicalmente, viver num pas livre e independente.

Roberto Torres Hollanda, mais conhecido pelo pseudnimo Rolando de Nassau, crtico musical dO Jornal Batista desde dezembro de 1951, quando tinha acabado de completar seu 22 aniversrio. Formado em direito e istrao, Hollanda tem trs livros publicados: Introduo Msica Sacra (1957), Nassau -- dicionrio de msica evanglica (1994) e Bach -- vida e obra sacra, alm da traduo de La Prire d"aprs les Catchismes de la Reformation, de Karl Barth.

Saiba mais:
A msica sacra (ou faz) teologia
Independncia ou escravido
Como construir um pas mais justo

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