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03 de outubro de 2020
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Por trs dos nmeros da Covid-19 5tp4h

Por Ivan Abreu Figueiredo

semelhana de calos que se desenvolvem na pele agredida e lhe diminuem a sensibilidade, a repetio diria de centenas de mortes divulgadas encontra uma sociedade indiferente, ou no mnimo pouco solidria.

Triste perceber uma anestesia no ar, uma insensatez composta de negao da gravidade dos fatos com um materialismo do tipo "o show tem que continuar".

Lembro do primo levado pela Covid, do ex-aluno ainda nos seus 40, do filho cuja ausncia tingiu de dor o resto da vida da me que chorou na minha frente.

Por trs de cada registro, uma vida, relacionamentos, afetos. Como ter e cultivar a indiferena numa situao trgica dessas?

Parece no haver limites para a insensatez humana, para pessoas (especialmente lderes) que no hesitam em expor outros a riscos, para as festas que ocorrem em meio dor de tantos.

Pedaos da Palavra, discursos duros, eiam na mente: "Voc diz: "Estou rico, adquiri riquezas e no preciso de nada". No reconhece, porm, que miservel, digno de compaixo, pobre, cego e que est nu". Palavras do Apocalipse (3.17), denunciando cristos mornos, iludidos em uma bolha de f alienante que coloca sua segurana no ter e no no ser.

Corre-se da lamentao com tanto potencial teraputico, condutora ao arrependimento restaurador, na direo da iluso de que o pior j ou em nvel mundial.

preciso resgatar a palavra e a atitude de contrio, substantivo feminino, como explicado no dicionrio: "sentimento pungente de arrependimento por pecados cometidos e pela ofensa a Deus, menos pelo receio do castigo do que pelo amor e gratido divindade".

No se trata de nadar de braada na piscina da autopiedade. Trata-se de coragem, lucidez, fibra. Sim, a situao difcil, mas nunca sem esperana. No adianta apelar para palavras de ordem e pensamentos mgicos. A me lembro do apstolo Paulo em meio a lutas e perseguies, dizendo: "De todos os lados somos pressionados, mas no desanimados; ficamos perplexos, mas no desesperados; somos perseguidos, mas no abandonados; abatidos, mas no destrudos (2 Corntios 4.8-9).

A melhor resposta em tempos de tristeza chorar com quem chora, assumir-se parte da raa humana que sofre e luta, recusar os falsos consolos da negao e indiferena.

Por trs de cada um que se foi, uma ausncia doda demais. Chance de sermos resgatados da insensibilidade egosta e covarde. Chance de abrao de gente, de amigo, de irmo que ajuda a carregar o fardo.

Mais uma vez recorro frase certeira do saudoso pastor Elben Csar: precisamos de ajuda do alto e no de auto ajuda.

>> Confira a edio de julho-agosto da revista Ultimato: A igreja e a (ps) pandemia

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Ivan Abreu Figueiredo

Ivan Abreu Figueiredo, mdico, professor universitrio, membro da Igreja Batista Plenitude, So Lus, MA.

Textos publicados: 14 [ver]

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