“Pea-me outra coisa, pois crente eu no quero ser!” 12z5z

Eu s enxergava loucura naquilo que era adorao. Frequentei a igreja por dois anos sem revelao alguma da graa de Deus

Por Samuel Rgo

Cresci em um lar catlico, fiz o ensino fundamental e mdio em uma escola catlica, aprendi os valores morais da virtude, fiz eucaristia, crisma e eventualmente frequentava a missa. Tive uma infncia e adolescncia que considero normais. Mas foi aps a faculdade de medicina que muitas mudanas aconteceram em minha vida. A primeira delas foi um senso de liberdade e de busca por aproveitar a vida. A to esperada recompensa pelos duros anos dedicados aos estudos finalmente havia chegado. Nesta poca eu gozava de uma autoconfiana muito grande. Sentia-me quase inabalvel. Uma grande nsia de ser o melhor me impulsionava. Poderia fazer o que quisesse, ficar com quem quisesse, ser o que quisesse. Trilhei um caminho de muito sucesso profissional e conquistas materiais. Naquele momento no havia nada de errado com isso e eu continuava seguindo firme sem muitas reflexes sobre o futuro.

Em 2007, decidi me casar. Algum tipo de pensamento moral herdado das idades mais jovens me impeliam a tomar aquela deciso. Nesta poca, sem ter uma conscincia clara sobre isso, eu j havia trocado a moral baseada em virtudes por uma tica emotivista. Mergulhei fundo no hedonisno e na filosofia carpe diem. Aquelas experincias eram alimentos para a alma e toda a minha vida parecia ter muito sentido.

Para permanecer nessa vida de hipocrisia, muitas mentiras foram necessrias. No meio disso tudo meu filho nasceu. Pela primeira vez na vida acho que amei algum alm de mim mesmo. Ainda assim, apesar de algumas mudanas, o ego continuou reinando. Essa jornada seguiu firme at o dia em que decidi pr fim ao meu casamento. Sentia que correntes haviam me aprisionado e minha vontade era de ser verdadeiramente livre. No conseguia enxergar que as correntes eram internas e coloquei a culpa no matrimnio afinal de contas, parecia meio obvio que o casamento realmente aprisiona as pessoas e aquela deciso me pareceu muito acertada, apesar das consequncias dolorosas que traria. Segui em frente convicto de que no havia outra opo.

Agora no havia mais a quem culpar, e tive de me defrontar com o vazio que havia dentro de mim. As aventuras cheias de adrenalina j no tinham a mesma graa de antes. Tive uma crise de pnico e ei semanas com o corao agitado. A sensao de normalidade havia se perdido com a quebra da rotina. Acho que nunca me senti to perdido na vida como naquela poca. Mas eu realmente estava perdido, no sabia para onde ir e por isso no fui a lugar algum. Busquei me entorpecer em festas, viagens, novas amizades... mas a cada dia o vazio era maior. At o dia em que veio o pensamento de que j tinha vivido o suficiente e de que talvez estivesse na hora de encerrar o ciclo. Ento, percebi que realmente no estava bem.

Nesse tempo eu no orava, h muitos anos eu j no cria mais em Deus e j tinha experimentado vrias religies que no conseguiram me convencer de que havia uma realidade transcendente. Eu me tornara um materialista inveterado. No sei como isso aconteceu, pois, quando criana, eu cria em Deus.



Foi ento que conheci uma pessoa que viria a ser um elo de transformao profunda em minha vida. Quando a conheci pensei que seria apenas mais uma presa nas mos, ou melhor, nos dentes draculianos. Mas, para o meu prprio bem, eu estava muito enganado. Ela comeou a me levar para a igreja e, alguns anos mais tarde, tornou-se minha esposa. Confesso que s ia igreja porque tinha medo de algum crente ficar dando em cima dela. Mas, sinceramente, eu no queria estar ali. Eu olhava para as pessoas durante o culto e lembrava-me dos pacientes internados no hospital psiquitrico fiz residncia mdica em psiquiatria. Eu s enxergava loucura naquilo que era adorao. Frequentei aquele lugar por dois anos sem revelao alguma da graa de Deus.

Mas um dia a voz do Senhor falou claramente ao meu corao: Est na hora. Eu estranhei, fiquei curioso com a provocao e respondi: Hora de qu">Culpa e Graa, Paul Tournier