Por Carlos Catito e Dagmar Grzybowski
*Artigo publicado originalmente na edio 386 da revista Ultimato.

Em nossa sociedade ocidental, dinheiro , na maioria das vezes, sinnimo de poder. A cultura apregoa, silenciosamente, que o sentido da vida acumular e desfrutar de todos os prazeres que o dinheiro possa nos oferecer. Entretanto esse pensamento pode ser altamente corrosivo para os relacionamentos familiares.
Em famlias nas quais a busca pelo dinheiro se torna o foco principal da existncia, o tempo a a ser regido pela potencialidade do acumular; no pelo
chronos, mas por
plotos. No falo de famlias nas quais a escassez absoluta escraviza o trabalhador, mas daquelas que, possuindo o po nosso de cada dia, esto contaminadas pela obsesso do um pouco mais.
Nessa obsesso a mo se transforma em garra e impossibilita o afago da ternura.
O dinheiro tem sido tambm, inmeras vezes, utilizado como forma de controle manipulativo: Eu quem ganho, portanto determino como deve ser gasto!. Perde-se a dimenso da unidade de unidades, declarada no postulado: E sero os dois uma s carne (Gn 2.24). Quando existe o medo de que o cnjuge v desperdiar o meu dinheiro porque j no existe a ideia do reino do
nosso. No h um projeto de vida comum e o dilogo nesse campo superficial.
De igual forma, pais se utilizam do poder manipulativo do dinheiro para manter controle sobre a vida dos filhos, nunca permitindo que estes tornem-se plenamente autnomos. Quando os filhos so pequenos, esses pais nunca permitem que os filhos enfrentem situaes de frustrao, comprando alegrias efmeras (brinquedos, doces etc); na adolescncia, regulam o processo de diferenciao da famlia de origem com o monetrio; e, na fase de adulto jovem, inculcam nos filhos a ideia de que eles no podem ser autnomos (s vezes, nem se casarem) se no atingirem a mesma condio financeira dos pais esquecendo que s atingiram esse patamar aps vinte a trinta anos de acmulos. E os filhos vo ficando em casa como adultescentes, com graves dficits de maturidade para enfrentar a vida.
Os seguidores de Cristo so chamados a serem pessoas diferenciadas na sociedade o que John Stott definiu como contracultura crist. No se amoldem ao padro deste mundo, mas transformem-se pela renovao da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradvel e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2). E isso deve tambm nortear as relaes com o dinheiro dentro da famlia.
O dinheiro
jamais deve ser usado como instrumento de manipulao ou de poder, pois devemos lembrar: Tanto a prata quanto o ouro me pertencem, declara o Senhor dos Exrcitos (Ag 2.8). Logo, absolutamente
tudo que eu ganho, mesmo com o maior esforo que fao em meu trabalho,
no me pertence, antes pertence a Deus. Por isso no preciso querer obsessivamente controlar cada centavo, impedindo at mesmo que meu cnjuge saiba quanto ganho, com medo que venha a tomar de mim. Ningum pode tirar de mim o que no meu!
Pais devem lembrar que seu chamado criar os filhos segundo a instruo e o conselho do Senhor (Ef 6.4). E a instruo do Senhor, alm dessa citada pelo profeta Ageu, : No acumulem para vocs tesouros na terra, onde a traa e a ferrugem destroem, e onde os ladres arrombam e furtam (Mt 6.19); No se preocupem, dizendo: Que vamos comer">Capitalismo e Progresso