Minha nada mole teologia 1b1y52

Rodrigo de Lima Ferreira


No episdio exibido dia 25 de maio, no humorstico "Minha nada mole vida", da rede Globo, um fato no me fez rir; pelo contrrio, me deixou um gosto amargo na boca. Hlio, o filho do apresentador Jorge Horcio, vivido pelo ator Luiz Fernando Guimares, est procura de Deus, pois tem medo de cair no inferno. No texto cido de Fernanda Young, l pelas tantas o menino pergunta me quem Deus, e ela gagueja. Ele retruca: "Se algum foi importante para ns, mas no sabemos mais quem , isso significa que ele perdeu a importncia, n?".

Se eu perguntar quem Deus, receberei uma infinidade de respostas, resultante de uma infinidade de cosmovises. Grosso modo, um batista dir que Deus aquele que nos envia em misso; um presbiteriano, que ele Senhor absoluto e soberano da histria e de nossos destinos; um pentecostal, que ele quem envia o seu Esprito para nos batizar com fogo e nos dar seus dons; um neopentecostal, que ele quem nos enche de bnos materiais.

No estranho como tudo isso no chegue nem perto daquilo que Deus ? Claro, voc poder dizer que no h como afirmar como Deus , usando categorias racionais, pois ele est alm de nossa pobre e finita razo. Concordo. Nossa razo frgil para tentarmos definir quem Deus .

Mas, j que a razo um instrumento impreciso de aferio da verdade sobre a pessoa de Deus, por que insistimos em us-la com exclusividade, em vez de usarmos, por exemplo, o afeto juntamente com a razo?

Recalcados com o desprezo com que o modernismo devotou s nossas instituies teolgicas e prpria teologia, reforamos o seu carter racional. Sempre afirmamos, nos seminrios, que teologia cincia. Afirmamos (ainda que de modo inconsciente e no-intencional) que, racionalmente, possvel compreender o carter relacional e racional de Deus. Desenvolvemos ferramentas de uso nico racional para nos aproximarmos dele e de sua Palavra. Qual o resultado? Uma legio de pastores, obreiros, igrejas, que sabem discorrer com maestria sobre o carter amoroso de Deus, mas que no conseguem desfrutar desse mesmo carter amoroso. Uma multido de gente que descreve Deus, como se o lesse em um dicionrio, mas que tem dificuldade em relacionar-se com ele. Em outras palavras, pessoas (e igrejas e denominaes) com uma mentalidade liberal.

De uns anos para c, virou moda demonizar a ps-modernidade, como se ela fosse a responsvel por tudo de ruim que acontece com os evanglicos desde os relatrios do IBGE desmentindo o nosso furor triunfalista at os recentes casos de escndalo financeiro envolvendo gente grada de nosso meio. Afinal, a ps-modernidade caracterizada pelo relativismo moral (a minha verdade pode ser diferente da sua). Porm, a ps-modernidade no caracterizada apenas por isso. Realar apenas essa caracterstica desonestidade intelectual e, talvez, m-f.

Uma outra caracterstica da ps-modernidade a busca incessante da verdade (uma vez que perderam-se os referenciais absolutos, necessrio ir ao encontro daquilo que realmente verdade). E, nessa busca da verdade, a ps-modernidade lana mo no apenas da racionalidade, mas tambm dos sentidos.

Ora, quem sabe no seria por a que podemos encontrar a resposta pergunta quem Deus? Afinal, a resposta no pode estar apenas em uma definio acadmica, mas deve estar estampada em nosso corao e em nossa vida. Essa definio afetiva de Deus, ainda que no resolva o problema do liberalismo, ao menos serve para que possamos nos libertar da iluso racionalista de que ns servimos como parmetros para a vida. Enfim, como afirma Brennan Manning, deixaremos de nos importar com questes teolgicas importantes que no so nem teolgicas nem importantes. E poderemos responder para ns mesmos: afinal, quem Deus?


Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e ps-graduando em misses urbanas, hoje pastoreia a IPI de Serranpolis, GO.