Desenvolvimento e sustentabilidade na Amaznia: Uma perspectiva crist 2o2j39

// DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

Preparando-se para a publicao de um infogrfico sobre as questes ambientais na edio de julho/agosto de 2018 da revista, Ultimato perguntou a Maria do P. Socorro R. Chaves professora doutora do Departamento de Servio Social da Universidade Federal do Amazonas e coordenadora do Parque Cientfico e Tecnolgico para Incluso Social e do Observatrio de Economia Criativa-AM quais so as duas principais questes ambientais que o Brasil precisa enfrentar, a partir da viso crist. Conhea as respostas dela.

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Irei tratar as questes a partir de dois ngulos interelacionados entre si: o primeiro sob o prisma da tica crist e segundo a partir do meu trabalho profissional na condio de pesquisadora junto aos segmentos sociais mais empobrecidos e em condio de vulnerabilidade social, seja no meio rural ou no urbano, na Amaznia, desde a dcada de 80. Assim, por ordem de prioridade listarei duas problemticas, seus impactos e os desafios identificados.

Desenvolvimento e sustentabilidade

Sob as bases do compromisso cristo e do profissional no se pode ignorar que a vigncia de uma intensa crise socioambiental e a necessidade de promoo da incluso social, o combate s condies de vulnerabilidade social/ambiental e a necessidade de criar as possibilidades adequadas e igualitrias de o a bens e servios sociais bsicos (sade, assistncia e previdncia social, educao, entre outras) no Brasil e na Amaznia de maneira particular, imperativo para o desenvolvimento com sustentabilidade a adoo de um novo direcionamento para as polticas pblicas. Tendo em vista que para combater a pobreza e atender s necessidades humanas bsicas vigentes, as polticas pblicas adotadas padecem de graves deficincias e precariedades no atendimento.

A crise socioambiental no mundo produziu um quadro crtico em relao a contaminao e escassez global de gua que impactam diretamente as condies de sade dos segmentos sociais mais pobres. Em pases em desenvolvimento, 90-95% do esgoto residenciais e 70% dos resduos industriais so despejados sem tratamento nos rios e em seus tributrios reduzindo e gerando risco no abastecimento para consumo. Em todo o mundo mais de 250 milhes de pessoas/ano sofrem doenas ligadas ao consumo de gua (50% leitos em hospitais), mais de 2,2 milhes de pessoas morrem por ano de doenas associadas gua e saneamento, maioria crianas, registra-se mais de 6.000 mortes de crianas por dia (ONU, 2016).

A situao de vulnerabilidade socioambiental no Brasil crescente patrocinada pela acelerada dinmica de crescimento demogrfico agravado pelas prticas predatrias e geradores de poluio dos recursos hdricos agravados pela carncia de investimentos na captao, tratamento e distribuio. Em torno de 25% de domiclios brasileiros no so atendidos por rede de gua tratada, apenas 45% das residncias brasileiras possuem coleta de esgoto.

Entendo que se faz necessrio defender que as polticas pblicas, responsveis por proporcionar o o aos bens e servios sociais, requerem a construo de um novo modelo de implementao para que possam efetivamente contribuir para superar as desigualdades sociais predominantes entre ricos e pobres via distribuio equitativa de recursos e apoio para gerao de oportunidades e de renda.

Para uma trajetria de desenvolvimento, faz-se necessrio que todos os agentes assumam compromisso de envolver-se numa relao cooperativa. Nesta empreitada, as igrejas, membresia e lideranas, precisam entender a importncia da tarefa de propor e trabalhar na construo de um novo modelo de desenvolvimento que zele pela conservao da vida em todas as suas formas (inclusive das espcies vegetais e animais).

Direito ao territrio, a identidade social e a questo socioambiental

As igrejas na Amaznia esto incrustadas entre/nos maiores bolses de pobreza e junto aos povos que padecem das condies mais abominveis de insalubridade pela situao de vulnerabilidade socioambiental, sofrendo explorao de seu trabalho e nas trocas de produtos com comerciantes, a expropriao de seus territrios tradicionais gerando a desagregao de suas identidades socioculturais. Todavia, nem sempre as entidades crists situadas nestes espaos assumem o compromisso de defesa e/ou combate s injustias que testemunham.

A lgica produtivista do capital que patrocina a expanso das relaes capitalistas de produo, fundada nas necessidades imediatas de domnio sobre a explorao dos recursos naturais para reproduo econmica, ordena a produo de riquezas transformando e reduzindo a natureza meramente a matria prima para produo de mercadoria que gerem lucros incomensurveis. Nos dois ltimos anos contribuiu para o crescimento avassalador do desmatamento na Amaznia: o estado do Amazonas alcanou, em comparao aos anos anteriores desde que foi iniciado o monitoramento na dcada de 90, um crescimento de 50% de desmatamento. As aes relacionadas s prticas predatrias geram enfretamentos violentos e o deslocamento e desagregao de comunidades tradicionais de seus territrios ancestrais pela limitao das condies de reproduo fsica e social, gerando anomia social e empobrecimento extremo.

As igrejas crists precisam assumir o compromisso de zelar pela vida dessas populaes no somente praticando o assistencialismo ou a assistncia humanitria eventual, mas envolvendo-se em aes afirmativas de cidadania em defesa dos direitos sociais e humanos daqueles que padecem de diversas formas de violaes e enfrentam extrema condio de vulnerabilidade social e ambiental.

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