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Cincia e Religio: uma conversa significativa 6l4x3h

O enorme interesse pblico na recente visita do Papa aos Estados Unidos chamou a ateno para um dos enigmas culturais do incio do sculo XXI: a persistncia da religio em um framework secular. Enquanto alguns acreditavam que a ascenso de uma cultura secular levaria morte lenta e inevitvel da religio, o que temos visto o surgimento de um padro muito diferente. A religio est mudando, adaptando-se a um novo panorama cultural e encontrando novas formas de expresso e existncia.

As pessoas frequentemente associam a ascenso do secularismo ao progresso cientfico. Em seu importante trabalho, A secular Age, Charles Taylor discorre sobre o surgimento do que ele chamou de um quadro imanente (immanent frame), um hbito automtico de pensamento que v o universo como autocontido e autorreferencial. O que Taylor descreve aqui uma predisposio cultural uma forma axiomtica de ver e conceber o mundo que simplesmente exclui ou marginaliza o divino por questo de princpio. impensvel acreditar em algo diferente disso; de fato, ir contra essa mentalidade cultural visto como algo irracional. Mas mesmo diante de tal cenrio, a religio continua a ser uma presena significativa dentro de uma cultura cientfica, mesmo que, como sugeriu o novelista Flannery OConnor, a cultura americana possa ser mais assombrada por Cristo que centrada em Cristo.

Isso naturalmente levanta uma questo importante: como a cincia e a religio se relacionam em um contexto como esse? A resposta culturalmente dominante, reciclada repetidamente por formadores de opinio preguiosos, que a cincia est associada s evidncias e fatos, enquanto a religio est associada f cega. As duas esto condenadas a um relacionamento de guerra perptua, ou, na melhor das hipteses, fria indiferena sem possibilidades de conversas significativas proposta pelo falecido Stephen Jay Gould.

Entretanto, a utilidade e plausibilidade de tais abordagens enfrentam problemas muito srios. O grande revisionismo histrico dos ltimos 40 anos deixou o modelo do conflito da relao entre cincia e religio (desenvolvido por razes polmicas no fim do sculo XIX) muito enfraquecido diante das demonstraes acadmicas de sua inadequao com relao s evidncias. Como Peter Harrison mostra de forma clara em seu recente livro magistral, The Territories of Science and Religion (2015), nosso entendimento do que cincia e religio culturalmente determinado. No h nenhuma caracterstica essencial da cincia ou da religio que determina o relacionamento adequado entre elas. A interao histrica entre cincia e religio envolve elementos de tenso em alguns momentos e elementos de sinergia e colaborao em outros. Mas no existe um modelo universal, nenhum slogan perspicaz e simples que captura a essncia da relao complexa e dinmica entre elas.

Isso no impediu alguns de inventarem uma explicao normativa da relao entre elas que servisse s suas prprias agendas. O neo-atesmo, que recebeu ateno pblica na primeira dcada do sculo 21, viu a cincia como uma arma em sua batalha vacilante contra a presena da religio na cultura americana. Christopher Hitchens, uma das vozes mais estridentes dentro deste movimento, reescreveu (com grande entusiasmo) a histria para mostrar um padro claro de obscurantismo religioso diante do avano cientfico.

Devido a restries de espao, discutiremos apenas um exemplo dos famosos pronunciamentos oraculares de Hitchens. Ele est correto quando diz a seus leitores que o escritor cristo, Timothy Dwight (1752-1811), um antigo presidente de Yale College, no era a favor da vacinao contra a varola. Para Hitchens, o erro de julgamento de Dwight tpico da mente retrgrada das pessoas religiosas. Essa concluso superficial perturbadoramente pobre em termos de evidncias e excessiva em seu tom de ridicularizao. Hitchens, sem sombra de dvidas, est correto em usar a vacinao contra varola como um exemplo de hostilidade ao avano cientfico, e em dizer que Dwight se ops a essa vacinao. Mas as concluses simplistas s quais ele chega apenas revelam seus prprios preconceitos e compromissos ideolgicos profundamente enraizados. A situao muito mais complexa e, de forma obstinada, ela no se conforma narrativa de conflito que Hitchens abraa de forma to acrtica. Vou oferecer dois contraexemplos para demonstrar o que estou dizendo.

Claramente, Hitchens acredita que a vacinao contra varola uma coisa boa, de forma que aqueles que se opem a ela devem ser condenados e aqueles que a defendem devem ser louvados. Mas na gerao que antecedeu Dwight, Jonathan Edwards (1703-1758), considerado hoje o maior pensador cristo americano, foi um ardente defensor da vacinao contra varola. Edwards chegou at mesmo a voluntariar-se para receber a vacina, com o objetivo de mostrar a seus estudantes em Princeton que esse novo procedimento mdico era seguro. A vacina no teve sucesso e Edwards morreu pouco tempo depois de receb-la.

Infelizmente, esse vis perturbador corroborado ainda mais pela impressionante ausncia de qualquer meno por parte de Hitchens ao fato de que George Bernard Shaw (1856-1950), o influente escritor atesta, se ops vacinao contra varola em 1930, ridicularizando-a como uma iluso e uma obra imunda de bruxaria. Ele acusou cientistas proeminentes, cujos trabalhos claramente avam a vacinao como Louis Pasteur e Joseph Lister , de serem charlates que no sabiam nada sobre o mtodo cientfico. E o pior de tudo que Shaw fez tais afirmaes absurdas no sculo vinte.

Continuar dando mais exemplos no faz muito sentido. Em vez disso, o que precisamos elaborar um modelo de compreenso mais adequado para entender a cincia e a religio. As duas continuam sendo presenas significativas na cultura americana. A rejeio deliberada possibilidade de qualquer dilogo significativo entre dois dos mais importantes elementos dessa cultura (cincia e religio) provavelmente ir contribuir para a sua balcanizao. Entretanto, existem possibilidades de dilogo e enriquecimento mtuo para aqueles dispostos a assumir riscos e permitir que a cincia e a religio tenham uma conversa significativa.

Essa a abordagem que adoto em meu novo livro, The Big Question: Why we cant stop talking about Science, Faith and God. O livro uma narrativa de minha prpria jornada de 40 anos para encontrar formas de integrar cincia e f de uma maneira que enriquece e informa ambas. Quando jovem, ao iniciar meus estudos cientficos na Universidade de Oxford, eu assumi a viso de que a religio era algo completamente sem sentido, resultado de ignorncia, e que ela rapidamente seria eliminada pelo progresso cientfico. O livro conta como eu gradualmente me desencantei com essa abordagem, medida que fui percebendo sua implausibilidade intelectual e entendi que os seres humanos precisam de mais do que apenas uma descrio do mundo para viver a vida de forma significativa e informada.

S mais tarde eu li o grande filsofo espanhol Jos Ortega y Gasset (1883-1955), que, ao discutir essa questo, foi capaz de ir direto ao ponto de uma forma muito mais eficaz do que eu conseguiria. Cientistas so seres humanos. Se, como seres humanos, queremos viver de forma plena, ns precisamos de algo alm da descrio parcial da realidade que a cincia pode nos oferecer. Precisamos de uma imagem do todo, uma ideia integral do universo. Ortega descreveu a questo assim. Qualquer filosofia de vida, qualquer forma de pensar sobre as questes que realmente importam, ter que ir alm da cincia no porque exista algo errado com a cincia, mas, precisamente, porque as substanciais virtudes da cincia so obtidas por um preo. A cincia funciona to bem por ser to focada e especfica em seus mtodos.

A verdade cientfica caracterizada por sua preciso e pela certeza de suas previses. Mas a cincia alcana essas irveis qualidades ao custo de permanecer no nvel das questes secundrias, deixando as questes ltimas e decisivas intocadas.
Para Ortega, a grande virtude intelectual da cincia que ela sabe seus limites. Ela responde apenas as questes que ela sabe que pode responder com base nas evidncias. Entretanto, como seres humanos, ns queremos ir mais longe. Precisamos de respostas para as questes mais profundas que no podemos deixar de perguntar.

O livro The Big Question explora como podemos desenvolver mltiplos mapas da realidade que nos permitam elaborar uma imagem do todo da vida; uma parte desse todo revelada pelas cincias naturais, outra, pela religio. O livro reconhece os limites da cincia e da religio e insiste que ns respeitemos e trabalhemos dentro desses limites. Tenho certeza de que o livro no ser apreciado por fundamentalistas de nenhuma espcie, cientfica ou religiosa, que insistem que sua abordagem, por si s, pode nos dizer tudo que precisamos saber sobre a vida. Mas vivemos em um mundo complexo, e nenhuma forma isolada de tentar compreend-lo boa o bastante para lhe fazer justia. Como disse a filsofa Mary Midgley (de forma muito sensata): Para as questes mais importantes na vida, vrias caixas de ferramentas conceituais diferentes precisam ser utilizadas em conjunto.

A narrativa dominante do conflito entre cincia e religio j est ultraada; ela pertence ao ado. Em seu lugar, eu proponho uma narrativa de enriquecimento que, embora crtica, tambm positiva. No h nada novo nessa proposta. Estou apenas recuperando e atualizando um modelo mais antigo, que remonta Renascena. Isso exige dilogo e humildade, e uma disposio para reconhecer a complexidade das coisas. Richard Dawkins e outros como ele levantaram boas perguntas; entretanto, as respostas que foram dadas so inadequadas. Est na hora de explorar outra abordagem. Acima de tudo, precisamos encontrar uma forma de lidar com aquilo que John Dewey declarou ser o problema mais srio da vida moderna que ns falhamos em integrar nossos pensamentos sobre o mundo com nossos pensamentos sobre valor e propsito. A Renascena fazia isso muito bem. Talvez esteja na hora de recuperar sua viso.

Alister McGrath professor de Cincia e Religio cadeira Andreas Idreos na Universidade de Oxford. Ele autor de A Cincia de Deus, Como Lidar com a Dvida, entre outros.

Traduo por Moiss Lisboa.

Nota:
Publicado originalmente no site Cristos na Cincia

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Imagem: Mirko Delcaldo / Freeimages

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