Chamados para cuidar das crianas g1f38

Misso tem origem na palavra mittere (latim) que significa enviar, mandar, emitir, arremessar. Ela foi adotada pela igreja na Idade Mdia para descrever o envio de Jesus por Deus ao mundo no poder do Esprito Santo.

Quem envia? Deus
Para onde? Para um mundo divorciado do seu Criador
Para fazer o qu? Reconciliar consigo mesmo todas as coisas.
Com que autoridade e poder? No poder do Esprito Santo.

Comeamos a usar a palavra misso no sculo ado, todas as vezes que uma igreja enviava pessoas para uma atuao religiosa especfica em lugares distantes. Os motivos principais eram promover a converso dos no-cristos e implantar igrejas.

Ao focar exclusivamente nestes dois motivos cometemos o erro de individualizar e institucionalizar demais a misso da igreja no mundo. Distanciamo-nos do modelo deixado por Jesus que via a pessoa de forma integral, o indivduo como parte de uma comunidade, cada comunidade como parte de uma realidade maior, e esta realidade como parte integrante da histria que ele mesmo escreve e cujo fim ser marcado por um reino de justia e paz.

Isto no difcil de perceber se olharmos, por exemplo, o que o Novo Testamento diz sobre o final dos tempos. A maioria destes textos escatolgicos relata acontecimentos que afetaro radicalmente no apenas pessoas, mas tambm a natureza, os poderes, os governos, as etnias, as naes. A grande notcia hoje que a reconciliao (com o Criador e com as criaturas) possvel, e est disponvel em todas as esferas da experincia humana. O evangelho anunciado no Novo Testamento vai muito alm da resposta individual (converso) e da conquista de novos adeptos f crist (novas igrejas); ele abrange toda a histria humana e todo o universo!

Voltando s origens
Voltemos ento s origens. Novamente Jesus disse: Paz seja com vocs! Assim como o Pai me enviou, eu os envio (Jo 20.21).

Quem nos envia? Jesus.

Para onde? Para os ambientes onde reina a injustia e o descaso para com o nosso Criador. Como consequncia, a vida desvalorizada, o ser humano oprimido especialmente aqueles que no detm poder.

Para fazer o qu? Para servirmos como agentes de reconciliao. Cristo tornou possvel a paz entre o Criador e a criatura, entre a criatura e o seu prximo, entre a criatura e o seu meio ambiente (Co 1.20).

Com que autoridade e poder? No poder do Esprito Santo.

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Objetivos bsicos no trabalho social cristo
Partindo desta perspectiva de misso, que contribuio especfica o trabalho social cristo pode oferecer ao mundo? Quando uma igreja envia um de seus membros para o trabalho social entre crianas e adolescentes socialmente vulnerveis, ela deve entender que a misso na qual acaba de se envolver deve atingir quatro objetivos bsicos:

- Resgate e cura. Para as crianas e adolescentes vulnerveis a mensagem de reconciliao traz a promessa de que possvel quebrar o ciclo opressor que governa seus relacionamentos. Eles podem e devem buscar ajuda para sair de situaes violentas e desumanas. Eles descobrem que no foram predestinados a serem vtimas de tudo e de todos. J em um processo de cura, eles descobrem que necessrio abrir mo de serem juzes daqueles que nos feriram Deus se encarregar deles. E mais, descobrem que ele quer nos perdoar e curar, ele est do nosso lado e tem um futuro promissor para ns!

- Cuidado. As necessidades dirias de crianas e adolescentes no podem esperar por processos burocrticos interminveis. Eles precisam de comida, um lugar seguro para morar, uma escola para frequentar, algum para abraar e aconselhar, hoje! H mil e uma maneiras de prover estes cuidados. No final, todos eles devem dizer a mesma coisa para a criana: voc mora no corao de Deus!

- Defesa. Lutamos por melhorias prticas na vida das crianas, mas no paramos por a. Queremos ver crianas e adolescentes fazendo as pazes com Deus e com as pessoas que os rodeiam. Por isto, lutamos pela famlia. Queremos que eles tenham convivncia em uma comunidade na qual os valores do reino de Deus comeam a ser observados. Por isto, lutamos pela garantia dos direitos das crianas e adolescentes negligenciados. Queremos ver a sociedade caminhando para uma reconciliao com Deus que resulta em aes prticas de justia, por isto lutamos nos espaos pblicos e buscamos influenciar nossas autoridades para que suas decises beneficiem as crianas e suas famlias.

- Promoo. Num mundo onde Jesus o Rei, as crianas sero acolhidas como cidads, no como objetos de consumo, como a realidade de tantas hoje. Isto significa treinar a ns mesmos a enxergar as crianas pela perspectiva de Jesus, comeando no seio da igreja! Se Jesus particie de nossas igrejas hoje, que reformas ele faria no jeito de tratarmos as crianas? Teramos crianas ministrando, na sua simplicidade, a seu modo, a ns adultos? Ser que a nossa adorao seria to adultocntrica como hoje? Reconheceramos a espiritualidade dos pequeninos como algo a ser irada e imitada?

O trabalho de Deus de reconciliar consigo mesmo todas as coisas exige de ns uma resposta que envolve nosso compromisso e engajamento. Apesar disso ele essencialmente uma obra divina, e, claro, divinamente orquestrada. Parte do que almejamos s acontecer no futuro. No presente anunciamos esta nova ordem inaugurada por Jesus na sua morte e ressurreio h dois milnios.

Que programa de governo pode fazer isto? Que autoridade humana instituda pode ligar na terra algo que ser ao mesmo tempo ligado no cu? (Mt18.18.) No entanto, fomos comissionados para fazer justamente essa tarefa, que se torna impossvel se no ocuparmos todas as brechas disponveis na sociedade.

No trabalho social comum expressarmos tristeza e at mgoa em relao igreja. Como manifestao da presena de Jesus na terra, ela precisa se empenhar em nos enviar, nos capacitar, nos acolher de volta quando adoecemos na alma. E ns, trabalhadores, precisamos reconhecer que a obra de Deus e que a misso da igreja. Reconciliemo-nos ento com ela!

Elsie Gilbert jornalista e editora do blog da Rede Mos Dadas.

Nota:
Artigo publicado originalmente na revista Mos Dadas n 28, com o ttulo O Trabalho Social como Misso: comeando pela Igreja.

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Foto: James GIlbert