Campanha da Fraternidade faz chamado para combate ao trfico humano 69511h

A Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fez ontem (5) um chamado para que a sociedade se conscientize da importncia de combater o trfico de pessoas, ao lanar a Campanha da Fraternidade de 2014, cujo tema Fraternidade e Trfico Humano e o lema " para a liberdade que Cristo nos libertou".

No incio do evento, foi lida uma mensagem do papa Francisco, na qual ele afirma que "no possvel ficar imvel, sabendo que seres humanos so tratados como mercadoria". O papa lembrou que crianas so traficadas para a remoo de rgos, mulheres submetidas explorao sexual e trabalhadores mantidos em condio de escravido. Estas so algumas das situaes de trfico de pessoas que a campanha vai abordar.

Durante a solenidade de lanamento, o secretrio-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, disse que o crime viola a dignidade das pessoas submetidas e que a prtica fruto da sociedade em que vivemos. "Queremos com a campanha identificar essa realidade e, junto com o Estado, realizar este trabalho para que as pessoas deixem de ser exploradas", exortou. "O trfico de pessoas fruto da cultura em que vivemos, atualmente quase nos habituamos ao sofrimento do outro e preciso se compadecer pelas pessoas traficadas", disse.

A secretria executiva do Conselho Nacional de Igrejas Crists (Conic), pastora Romi Mrcia Bencke, reiterou que esta dificuldade se deve tambm vulnerabilidade econmica das pessoas traficadas. "O tema toca em razes profundas na forma como a nossa sociedade se estrutura e [o trfico humano] se capilariza em vrios setores da economia", disse. Os religiosos tambm ressaltaram a necessidade de superar divergncias religiosas para combater esse tipo de crime.

A solenidade contou ainda com a presena do ministro da Justia, Jos Eduardo Cardozo, que elogiou a iniciativa e classificou o trfico de pessoas como uma prtica subterrnea, devido dificuldade de verificar sua ocorrncia. " inaceitvel que pessoas sejam tratadas como escravas", disse Cardozo para quem o crime tem que ser combatido de forma conjunta com a sociedade. "Temos esta oportunidade de juno de foras com a sociedade, atravs da Campanha da Fraternidade e da formao de um comit conjunto para aprimorar as polticas de Estado, receber sugestes e ao mesmo tempo enraizar atuaes na sociedade", complementou.

Cardozo lembrou que no existem dados precisos sobre a quantidade de pessoas traficadas j que, muitas vezes, vtimas e familiares tm vergonha de revelar a situao de explorao. "Infelizmente o nmero de inquritos policiais abertos relativos ao trfico de pessoas ainda pequeno em comparao ao volume da realizao desse crime. Isto acontece porque as pessoas no noticiam o trfico. s vezes as pessoas tm vergonha de falar que foram vtimas desse crime, os familiares tambm no denunciam e muitas vezes as pessoas imaginam que esto sendo ajudadas por aqueles que so os verdadeiros autores e mentores deste tipo de crime", disse.

A pesquisa Diagnstico sobre Trfico de Pessoas nas reas de Fronteira no Brasil, divulgada pelo governo federal em outubro do ano ado, aponta que, entre 2005 e 2011, um tero dos indiciados por trfico de pessoas foi preso em regio de fronteira. Dos 384 indiciamentos, 128 foram registrados na fronteira brasileira que tem 15.719 quilmetros de extenso ao longo de 11 estados Acre, Amap, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Par, Paran, Rio Grande do Sul, Roraima, Rondnia e Santa Catarina.

O levantamento constatou que as pessoas geralmente so traficadas para fins de explorao sexual e trabalho escravo. Tambm detectou situaes como pessoas traficadas para a prtica de mendicncia e de crianas e adolescentes para servido domstica. A maioria dos casos de trfico para explorao sexual foi identificada nos estados de Roraima, Rondnia, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, do Par, Amap e Acre.

A maioria das vtimas so mulheres, na faixa etria de 18 a 29 anos. Alm das mulheres, tambm so vtimas do trfico humano crianas e adolescentes, travestis e transgneros, geralmente em condio de vulnerabilidade, seja pelas condies socioeconmicas, seja pela presena de conflitos familiares, seja pela violncia sofrida na famlia de origem.

A Campanha da Fraternidade lanada no primeiro dia da Quaresma (perodo do ano litrgico que antecede a Pscoa). De acordo com a CNBB, os recursos arrecadados com a campanha sero utilizados em projetos de identificao e combate de situaes de trfico humano.

Com informaes da Agncia Brasil. Texto: Luciano Nascimento. Edio: Denise Griesinger.