Opinio 3pp3w
15 de outubro de 2014
- Visualizaes: 5243
1 comentrio(s)
- +A
- -A
-
compartilhar
A eleio e as eleies 2z3e46

O primeiro tema vem de uma longa durao ou tradio, desde o perodo ps reforma ou at antes, quando agostinianos e pelagianos, calvinistas e arminianos polarizaram os debates acerca dos critrios divinos para salvar uns e no outros e do grau de participao e autonomia humana no seu destino eterno. O segundo tem uma curta durao porque votar ainda uma experincia recente na outrora instvel, ameaada e interrompida democracia brasileira.
Se a eleio implica nos decretos divinos envoltos em propsitos inalcanveis mente humana, as eleies funcionam segundo os decretos humanos sujeitos aos interesses dos grupos e dos indivduos, aos programas dos partidos, s alianas e aos pactos possveis entre as foras polticas atuantes. Estas tambm acontecem em meio a disputas, temores, discriminaes, interesses, acirramentos de nimos, dios e conflitos ideolgicos de classe.
Por um lado, necessrio reconhecer que esta demanda faz parte do jogo poltico e da prpria democracia. No h como conciliar de todo os conflitos to complexos surgidos numa ordem poltica e econmica atravessada por agudas contradies. Por outro, ela reproduz certos sentimentos e valores at no conscientes que foram tecidos numa cultura poltica historicamente marcada por sculos de desigualdades, excluses e preconceitos.
No Imprio somente os abastados votavam porque o voto dependia da renda para usufruir deste privilgio autoconcedido. Negros escravos e forros, indgenas, mulheres, analfabetos e at segmentos mdios letrados ficavam de fora das eleies que ainda eram determinadas em seus resultados pelas fraudes. Apesar da Repblica proclamada e do direito universalizado do voto, no houve o avano quantitativo da participao popular, mas a permanncia das restries s mulheres, aos analfabetos e aos que no possuam renda mantiveram o mesmo percentual de pouco mais de 1% de votantes!
Isso porque, pelos decretos e arcanos simulados das elites governantes do pas, a cidadania era uma concesso controlada e temerosa ante a participao popular direta na coisa pblica. Quando o voto universal foi sendo estendido a todos os segmentos, seja pela presso popular das greves, dos partidos progressistas, dos segmentos liberais, dos movimentos sociais e das classes mdias emergentes, ainda assim esteve sujeito ao cabresto das camadas dirigentes. Este voto de cabresto se perpetuou sob outras modalidades mais sofisticadas e disfaradas no campo religioso evanglico, por exemplo, como bem denunciou a Rede FALE acerca do voto de cajado praticado nas igrejas evanglicas.
As tentativas golpistas desde Getlio Vargas at o sucesso do golpe de 1964 representaram o esforo de conter as massas em suas reivindicaes legtimas por justia social, salrio justo, reforma agrria, educao e outras temticas bsicas. O regime militar favoreceu a violncia contra os movimentos sociais e aprofundou, nos segmentos mdios e dirigentes da sociedade, o medo diante de qualquer processo de empoderamento das populaes secularmente desassistidas e excludas.
Da o ressurgimento de leituras rancorosas, seno odiosas, voltadas contra polticas que favorecem a elevao da condio social dos mais empobrecidos, por meio de polticas sociais efetivas. Reacendem os velhos horrores ante s ameaas do comunismo travestidos nos discursos preconceituosos aos nordestinos e aos favorecidos por estas polticas sociais enquanto vagabundos que sobrevivem s custas dos recursos pblicos.
Se o voto um gesto cvico perado por tantas implicaes, ele no pode tornar-se refm de motivaes determinadas pelo medo, pelo rancor e pela coero. Sobretudo, escolher pelo voto um(a) candidato(a) deve contribuir muito mais para um processo de mudana em direo justia social, distribuio de renda e ao aprofundamento da democracia. No estamos votando em messias, antes em processos de mudana reais ou na conservao de privilgios aos segmentos elitizados.
A eleio divina tem como motivao a graa e a incluso de todo(a)s que se arrependem, sem acepes, sem preconceitos e sem interesses, pois Ele morreu pelo mundo todo por amor. Incondicional. Da ela ser tambm poltica no sentido em que os que nada so foram escolhidos e transformados em gente, filhos e filhas de Deus. Os excludos so aceitos e os pobres se tornam ricos na f para serem sujeitos na histria da salvao. A subclasse da humanidade se torna protagonista porque foi escolhida para ser povo de Deus, igualmente aos demais que se julgam escolhidos pela condio social superior.
Sendo assim, a eleio um ato poltico de Deus. E isto se demonstrou nos dias do ministrio do seu Filho. Ao invs do bero no palcio de Herodes, escolheu a manjedoura num estbulo annimo de Belm. No lugar dos ministros de estado, esteve na companhia dos pastores do campo. No priorizou a Judia como lugar do ministrio, mas a Galileia dos gentios, terra onde havia sombra e morte. Na maior parte do tempo ele andou nas aldeias, nas vilas, nas ruas, nas sinagogas e nas margens do mar entre pessoas simples, pescadores, mulheres, enfermos, endemoninhados e lunticos. Seu programa ministerial era poltico, conforme expresso em Lucas 4.18: dar vista, curar, restaurar, libertar e anunciar.
Sem dio e sem medo.
Leia tambm
Os evanglicos no tm fora para decidir as eleies para presidente
Declogo do voto evanglico
Cristianismo e poltica
Foto: Marri Nogueira/ Agncia Senado
Lyndon de Arajo Santos historiador, professor universitrio e pastor da Igreja Evanglica Congregacional em So Lus, MA. Faz parte da Fraternidade Teolgica Latino-americana - Setor Brasil (FTL-Br).
- Textos publicados: 35 [ver]
15 de outubro de 2014
- Visualizaes: 5243
1 comentrio(s)
- +A
- -A
-
compartilhar
QUE BOM QUE VOC CHEGOU AT AQUI. 223i1k
Ultimato quer falar com voc.
A cada dia, mais de dez mil usurios navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, alm do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bblicos, devocionais dirias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, alm de artigos, notcias e servios que so atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.

Leia mais em Opinio 2l1v6s

Opinio do leitor 1t5dh
Para comentar necessrio estar logado no site. Clique aqui para fazer o ou o seu cadastro.
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta necessrio estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o ou seu cadastro.
Ainda no h artigos publicados na seo "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em ltimas 6ik57
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu h...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e Histria
- Casamento e Famlia
- Cincia
- Devocionrio
- Espiritualidade
- Estudo Bblico
- Evangelizao e Misses
- tica e Comportamento
- Igreja e Liderana
- Igreja em ao
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Poltica e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Sessenta +
- Srie Cincia e F Crist
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Crist
Revista Ultimato 5z423b
+ lidos 1s1q68
- A bno de ter avs e de ser avs
- Francisco, Samuel Escobar memria e honra
- Adolescncia: No preciso uma segunda temporada
- Os Jardins do den e a Sombra de Abel: uma jornada pela aposentadoria
- F, transformao social e incluso vida e obra de Jos de Souza Marques
- Abel e Zacarias: encontrando misso na aposentadoria avanada
- Paul Tournier e a Bblia
- Ser ou no ser me: eis a questo
- Filme Jesus traduzido para a 2.200 lngua, o Bouna
- 29 Mutiro Mundial de Orao por crianas e adolescentes socialmente vulnerveis chegou!