A dignidade de quem foi criado 5y4y51

Por Brulia Ribeiro

A dignidade humana, pea essencial para discusses em biotica, tica em polticas pblicas, tica de pesquisa, tem origem na desprezada lenda de Ado e Eva

Ento, Deus criou o mundo. Acreditamos at hoje neste conceito arcaico e talvez danoso para a humanidade, segundo alguns inimigos da cultura judaico-crist. Deus criou o mundo e depois criou os seres humanos essa a nossa crena fundamental sobre a existncia da humanidade. uma convico ontolgica, ou seja, nos d senso de origem e destino, e teleolgica, nos d propsito. Entretanto, faz mais do que isso. Saber-nos criados imagem de Deus, todos ns seres humanos, gera em ns a obrigao de pertencer um ao outro, porque somos todos iguais, filhos do mesmo Pai, criados com a mesma finura e beleza, nas mesmas condies, com o mesmo valor inato. Esta criao nos atribui dignidade.

A criao para os cristos no lenda, mas realidade. Alguns se atrevem a tentar esmiuar o como. Seriam sete dias de 24 horas? Seriam dias de milhares de anos? O fato que os detalhes sobre como fomos criados no so to importantes quanto o reconhecimento de que houve uma criao e que viemos dela. Nossa origem divina nos atribui um valor que no conseguimos atribuir a ns mesmos. O Iluminismo, que nos lanou em direo ao secularismo que hoje domina a Europa, inspirou-se na concepo testa da existncia para estipular muitos dos princpios que at hoje nos separam do barbarismo. Ideias, assim como a moda, reciclam-se. Durante o tempo em que o mundo secular sacudiu de si a poeira do pensamento cristo, alienou tambm a noo de moral. O dilogo sobre moral era impossvel naquele ambiente de carne e osso apenas. O mundo ria quando se falava de certo e errado.

Porm, a necessidade de dialogar sobre moralidade inata sociedade. Disciplinas novas, como a biotica, trouxeram de volta ao espao pblico a discusso sobre moral. O problema continuou. Como estipular valor para o ser humano na condio de indivduo fora da concepo da criao? No d. O utilitarismo, a filosofia moral atesta por excelncia, atribui a todos os seres sensveis o mesmo valor. Um dia perguntaram em tom de brincadeira a Peter Singer, o mestre-mor do utilitarismo: Se uma casa se incendiar com um beb dentro e muitos ratos, e eu tiver a oportunidade de salvar quem est l dentro, quantos ratos eu teria de salvar para poder salvar o beb">O debate sobre a origem da humanidade e a leitura de Gnesis