Entre a morte do cachorrinho e o nascimento do bebezinho i2ho

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Ao lado de uma residncia surgem gritos desesperados semelhantes a pedido de socorro. Entre o senso de urgncia e a necessria cautela, imagina-se um vizinho em perigo. Era uma mulher pranteando a morte de seu cachorrinho.

Pouco depois, pessoas chegam trajando roupa social e gravata. Funcionrios de uma funerria. Extremamente profissionais: semblantes reverentes, sisuda empatia, disposio solcita - um deles segura o Mini Caixo preparando-se para o momento de recolher o dog sem vida.

Em 1991, o ex-ministro do Trabalho e Previdncia, Antnio R. Magri, ao levar sua cadela a uma clnica veterinria no carro do governo federal, indagado pela imprensa sobre a tica de sua conduta aliada a uma espcie de "patrimonialismo imoral", respondeu: cachorro tambm gente.

Se a "hiprbole" do ex-ministro de Collor ao valorizar pets ou vida animal ao patamar humano foi tida por escrnio contra cidados pagadores de impostos, em outro contexto muitos pases j cobram uma taxa anual sobre animais de estimao. "Em 2023, por exemplo, a Alemanha arrecadou o equivalente a R$ 2,6 bilhes por meio desse imposto. Nesse pas com taxa anual sobre pets atravs do governo municipal, a expectativa de que chegue a R$ 5 bi de arrecadao nos prximos anos."

Segundo o programa jornalstico brasileiro (NDTV), "alm das despesas com rao, veterinrio, roupinhas e inclusive remdios e tratamentos, em cada cidade alem existe uma taxa anual para os bichinhos de estimao. E com um detalhe: os valores oscilam entre raas mais perigosas e menos perigosas". Em 2023, a arrecadao do mercado pet no Brasil foi em torno de 69 milhes de reais.

Em outra reportagem veiculada em 2021, o mesmo programa de notcias (NDTV) relatou que "a pandemia no atingiu o comrcio dos pets, na verdade, ele cresceu e se fortaleceu. Com a pandemia, responsvel por desempregos e inclusive quebradeiras, um segmento no teve do que reclamar: [... os petshops]. Segundo o jornalista Paulo Alceu, "nesse perodo de isolamento e dificuldades, houve um incremento de 54% na adoo de animais domsticos".

Da perspectiva bblica, ao serem criados por Deus e submetidos ao devido cuidado humano como parte da mordomia crist, os animais deveriam ser protegidos e zelados, embora no idolatrados. Assim, o reconhecimento do ser humano como a mais importante das criaturas confirmaria a correta orientao das prioridades nas afeies no desafio de dignificar o ser humano e conferir-lhe apreo acima dos animais.

compreensvel que algumas pessoas enalteam a companhia de animais a preferir determinados humanos, mas ainda que argumentem sobre a pureza, carinho e fidelidade dos bichos ou a vantagem de am-los ou sentir-se incondicionalmente por eles amados - sem decepes, falsidade ou vulnerabilidade da maldade humana -, no preciso anlise to profunda para desmistificar certos exageros.

O "carinho, lealdade, companhia e apego" de um animal de estimao no deixa de ser cativante, embora consequncia dos seus instintos em resposta interao humana e laos desenvolvidos. Nesse sentido, suas reaes resultam daquilo que ele foi destinado a ser por natureza. Guardadas as devidas propores, um cozinho "rob" programado para agradar e obedecer a quem dele cuida.

Em contrapartida, a fidelidade, amor, amizade e estima entre humanos requer escolha racional livre. Assim sendo, dilogo, conselhos, lealdade e genuno apreo no se dissociam da possibilidade de traio, ofensa e desapontamento - num relacionamento onde somente pessoas podem oferecer graves riscos ou sublimes alegrias.

Se as pessoas que nos amam (ou amamos) so aquelas que mais convivem com nossos defeitos e a recproca afetuosa imperfeita menos imprevisvel no carinho de um bichinho irracional, seria um mecanismo sofisticado do psiquismo humano elevar os pets ao status de "filhos" ou "amigos"? Em muitos casos, um subterfgio que revelaria facetas de uma sociedade hodierna solitria, egosta e carente de relacionamentos profundos que demandam responsabilidade e sacrifcios?

Se Jesus deixou claro que as pessoas valem muito mais que os animais (Mateus 10:31; 12:11), tal declarao implica dizer o bvio: nenhum pet no mundo mais precioso para Deus do que um nico ser humano. Assunto srio e profundo!

Em outras palavras, animais so preciosos, mas nenhum papagaio engraado, co que joga futevlei, gato enfeitado ou qualquer pet ou animal querido etc., vale mais que um nico maltrapilho que nos pede moeda num semforo ou qualquer menor de rua ou outro ser humano de quem nos afastamos por justo (ou no) incmodo, frieza, repulsa, receio, dio ou cautela.

Numa sociedade onde pets se tornam "filhos" (no divrcio at assunto jurdico) e o incio da vida intrauterina uma relativizao e contestao, as palavras de Chesterton tornam-se real constatao: Onde quer que haja adorao de animais, ali haver sacrifcio de humanos.

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Opinio do leitor 1t5dh