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04 de maio de 2007
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Palavras so eternas 182w5w
Ricardo Gondim
Lamento ter redirecionado meus talentos da oralidade para a escrita. Antigamente eu falava muito e escrevia pouco. De uns tempos para c, venho tentando concentrar meus pensamentos no texto. Ah, como isso me trouxe problemas!
Primeiramente, viciei-me. Agora no consigo mais dormir em paz. Todas as noites vou me deitar ruminando idias, concebendo metforas, procurando dar vida a personagens, imaginando temas inditos. Quando pareo contente, repentinamente sou atormentado por um esprito que vem do mundo onde habitam poetas, cronistas e romancistas. Esse misterioso ser me humilha, escancarando minha mediocridade. Varo noites repetindo para mim mesmo que me contentaria de s engraxar os sapatos dos gnios da literatura.
Escrever tornou-se um problema para mim. Na dissertao, descobri como preciso ser exato na semntica. Escrevendo, percebi que no posso simplesmente despejar palavras no texto, pois isso no s o empobrece, como me condena a tornar-me inconseqente.
Nos tempos em que eu s falava, o dito ficava pelo no dito. Quando ouso redigir, noto que as palavras se eternizam. Quantas vezes j fui consumido por no encontrar um vocbulo adequado, por no saber ordenar os pensamentos numa construo gramatical compreensvel, por no manter os raciocnios lmpidos. Em um artigo banal, preciso das lupas de um Sherlock para escolher a metfora que transmita melhor o que me est camuflado na alma. Tenho algumas idias que se mimetizam to rapidamente que no consigo fazer o devido paralelo entre meus desassossegos e a redao.
Arrependo-me de ter aceitado o desafio de redigir porque acabei me expondo alm do que devia. Em meus devaneios autobiogrficos e nas minhas crnicas reais e fantasiosas, deixei-me comer por canibais annimos; alguns ferozmente se aproveitaram de meus pequenos deslizes para me estraalharem. Desde cedo eu havia aprendido que deveria manter o grande pblico do lado de fora dos meus jardins, quintais e, principalmente, de minha alma. Caramba! Deu errado. J no sei escrever sem me derramar, sem me despejar em reminiscncias, sem abrir minhas entranhas.
Arrependo-me de ter comeado a escrever porque acordei para minhas muitas incoerncias. No ado, quando articulava discursos, no ligava se me contradizia. Agora, consciente do que grafei, preciso manter a robustez dos pensamentos sobre Deus, sobre a vida, sobre o sofrimento humano. O texto corrige miopias, refina conjecturas e censura descuidos. Ele exige que o autor defenda suas idias at s ltimas conseqncias. Confesso sentir saudade da poca em que fui menos criterioso e tagarelei diante de grandes auditrios sem que ningum me cobrasse exatido.
Arrependo-me de ter aliciado algumas pessoas para meu texto. Atra alguns imprudentes leitores e eles, coitados, aram a gostar das minhas doidices autofgicas, das minhas apostasias teolgicas e dos meus delrios existenciais. Pior, condenei-me a continuar escrevendo para alimentar esses famintos pintassilgos que, de bico aberto, esperam o inspido po que regurgito em forma de palavra.
Arrependo-me de querer transformar minha carne em verbo. S depois que me aventurei por esse territrio onde vivem os deuses que entendo por que os substantivos almejam virar verbos. Amor, substantivo abstrato, sonha um dia tornar-se concreto. Os pensamentos querem existir em forma de ao e as palavras, vertebrar-se em atos. Se, antigamente, escondi-me nos discursos etreos, a escrita ou a exigir que eu me fizesse carne.
Arrependo-me de ter ousado escrever porque agora sei um pouco mais a quem muito foi dado, muito ser cobrado. Lamento ter alcanado nveis mais largos de conscincia.
Bem que deveria ter continuado falando, falando...
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim pastor da Assemblia de Deus Betesda no Brasil e mora em So Paulo. autor de, entre outros, O Que os Evanglicos (No) Falam e Eu Creio, Mas Tenho Dvidas (no prelo). www.ricardogondim.com.br

Primeiramente, viciei-me. Agora no consigo mais dormir em paz. Todas as noites vou me deitar ruminando idias, concebendo metforas, procurando dar vida a personagens, imaginando temas inditos. Quando pareo contente, repentinamente sou atormentado por um esprito que vem do mundo onde habitam poetas, cronistas e romancistas. Esse misterioso ser me humilha, escancarando minha mediocridade. Varo noites repetindo para mim mesmo que me contentaria de s engraxar os sapatos dos gnios da literatura.
Escrever tornou-se um problema para mim. Na dissertao, descobri como preciso ser exato na semntica. Escrevendo, percebi que no posso simplesmente despejar palavras no texto, pois isso no s o empobrece, como me condena a tornar-me inconseqente.
Nos tempos em que eu s falava, o dito ficava pelo no dito. Quando ouso redigir, noto que as palavras se eternizam. Quantas vezes j fui consumido por no encontrar um vocbulo adequado, por no saber ordenar os pensamentos numa construo gramatical compreensvel, por no manter os raciocnios lmpidos. Em um artigo banal, preciso das lupas de um Sherlock para escolher a metfora que transmita melhor o que me est camuflado na alma. Tenho algumas idias que se mimetizam to rapidamente que no consigo fazer o devido paralelo entre meus desassossegos e a redao.
Arrependo-me de ter aceitado o desafio de redigir porque acabei me expondo alm do que devia. Em meus devaneios autobiogrficos e nas minhas crnicas reais e fantasiosas, deixei-me comer por canibais annimos; alguns ferozmente se aproveitaram de meus pequenos deslizes para me estraalharem. Desde cedo eu havia aprendido que deveria manter o grande pblico do lado de fora dos meus jardins, quintais e, principalmente, de minha alma. Caramba! Deu errado. J no sei escrever sem me derramar, sem me despejar em reminiscncias, sem abrir minhas entranhas.
Arrependo-me de ter comeado a escrever porque acordei para minhas muitas incoerncias. No ado, quando articulava discursos, no ligava se me contradizia. Agora, consciente do que grafei, preciso manter a robustez dos pensamentos sobre Deus, sobre a vida, sobre o sofrimento humano. O texto corrige miopias, refina conjecturas e censura descuidos. Ele exige que o autor defenda suas idias at s ltimas conseqncias. Confesso sentir saudade da poca em que fui menos criterioso e tagarelei diante de grandes auditrios sem que ningum me cobrasse exatido.
Arrependo-me de ter aliciado algumas pessoas para meu texto. Atra alguns imprudentes leitores e eles, coitados, aram a gostar das minhas doidices autofgicas, das minhas apostasias teolgicas e dos meus delrios existenciais. Pior, condenei-me a continuar escrevendo para alimentar esses famintos pintassilgos que, de bico aberto, esperam o inspido po que regurgito em forma de palavra.
Arrependo-me de querer transformar minha carne em verbo. S depois que me aventurei por esse territrio onde vivem os deuses que entendo por que os substantivos almejam virar verbos. Amor, substantivo abstrato, sonha um dia tornar-se concreto. Os pensamentos querem existir em forma de ao e as palavras, vertebrar-se em atos. Se, antigamente, escondi-me nos discursos etreos, a escrita ou a exigir que eu me fizesse carne.
Arrependo-me de ter ousado escrever porque agora sei um pouco mais a quem muito foi dado, muito ser cobrado. Lamento ter alcanado nveis mais largos de conscincia.
Bem que deveria ter continuado falando, falando...
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim pastor da Assemblia de Deus Betesda no Brasil e mora em So Paulo. autor de, entre outros, O Que os Evanglicos (No) Falam e Eu Creio, Mas Tenho Dvidas (no prelo). www.ricardogondim.com.br
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