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09 de setembro de 2015
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Eu era estrangeiro e vocs me receberam 273h6t
O mundo sempre esteve em movimentos migratrios. Mas a estatstica atual de 60 milhes de refugiados faz com que muitos considerem esta a maior crise humanitria da histria. Na semana ada, o problema se tornou muito mais evidente. Uma foto trgica de uma criana sria refugiada morta na beira da praia na Turquia sensibilizou o mundo. Mas, com isso, tambm veio a polmica: a Europa (destino preferido dos refugiados) deve abrir suas fronteiras?
Por conta da urgncia do tema, resolvemos antecipar aqui no Portal a publicao da reportagem que a revista Ultimato publicou em sua edio de setembro-outubro. O Pr. Elben Csar visitou refugiados srios acolhidos por cristos no Brasil e constatou que ainda muito atual o versculo: Fui estrangeiro, e vocs me acolheram (Mt 25.35)
Confira.
***
O Mineiro com Cara de Matuto com os refugiados srios
Eu era estrangeiro e vocs me receberam [no Brasil]
L estava Maya, no saguo da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em So Paulo. Correndo de um lado para o outro. Sempre alegre. Sempre sorridente. Embora tenha chegado ao Brasil h apenas seis meses e falando uma lngua bem diferente, a menina j est matriculada numa escola e j fala portugus sem a menor dificuldade, deixando para trs a me, Yara, e seu pai, Tony, (nomes aportuguesados). Essa menina de 7 anos, nascida em Damasco, capital da Sria, em abril de 2008, um dos 7.289 refugiados reconhecidos de 81 nacionalidades distintas que vivem no Brasil de acordo com o Comit Nacional para os Refugiados (Conare). Nem os coleguinhas da escola primria nem a prpria Maya sabem que entre os refugiados do mundo todo h 750 mil crianas que no frequentam a escola!
Refugiados e deslocados 60 milhes
O Brasil e principalmente as igrejas precisam saber que o mundo est vivendo a maior crise humanitria da histria, que chega a superar o nmero de deslocados por ocasio da Segunda Guerra. Conflitos polticos, tnicos e religiosos, grupos terroristas islmicos (como o Estado Islmico e Boko Haram), redes internacionais de crime organizado, crises econmicas, corrupo, desastres naturais, somados insensibilidade das grandes potncias, geraram um caos generalizado. Quem est tentando abrir os nossos olhos para essas tragdias o Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados (Acnur).
Basta saber que existem hoje mais de 60 milhes de pessoas deslocadas forosamente de suas casas. Destas, 20 milhes so obrigadas a viver em outro pas e 40 milhes so obrigadas a viver fora de suas casas, mas no mesmo pas. Em 2014, a mdia diria de pessoas que tiveram de abandonar suas casas foi de 42.500! Quase a metade dos refugiados so mulheres e crianas (49%) e a metade tem menos de 18 anos.
Outro problema complicado que 86% dos refugiados esto em naes em desenvolvimento, como o Qunia, Paquisto, Turquia, Jordnia e Lbano. Isso implica um desafio enorme tanto para o governo e a populao desses pases como para os prprios refugiados. A Turquia, que abriga a metade dos refugiados srios (quase 2 milhes), por exemplo, devido falta de fundos, no capaz de satisfazer as necessidades humanitrias dos refugiados que nela se abrigam. O pas tem uma alta taxa de desemprego e uma populao jovem. A presena de to grande nmero de refugiados aumenta o problema do desemprego por causa da concorrncia. Alm dos nativos, h estrangeiros em busca de emprego. Acontece tambm que alguns empregadores do preferncia aos refugiados porque o salrio deles bem menor (enquanto o trabalhador turco recebe 1.500 libras turcas, o trabalhador refugiado recebe apenas 200). Algum j disse que a simpatia inicial do povo turco para os refugiados est comeando a se transformar em antipatia. A mdia de tempo que um refugiado permanece fora de seu pas de dezessete anos.
Jos Roberto M. Prado, coordenador do Renovare, programa de acolhimento da Misso em Apoio Igreja Sofredora (MAIS), acrescenta que os refugiados enfrentam desafios enormes, diariamente, como falta de esperana, violncia, discriminao, fome, falta de abrigo, perda de identidade e perda de poder econmico. Alm disso, eles encaram jornadas perigosssimas, como atravessar desertos, zonas de guerra, oceanos, expondo a si mesmos e aos seus familiares, e tornam-se vulnerveis s redes de trfico humano, explorao sexual, trfico de rgos.
Onde a igreja sofre a prpria igreja acolhe
Porque o aeroporto de Damasco est fechado por causa da guerra, o refugiado srio embarca no aeroporto de Beirute, no Lbano, ou no aeroporto de Istambul, na Turquia. A viagem dura dezesseis horas. Se ele ou outro refugiado que j est instalado no Brasil fez algum contato com a MAIS, o primeiro brasileiro (depois dos funcionrios do aeroporto e da alfndega) que ele v um paulista de 51 anos de culos e barbicha, muito simptico e acolhedor. Jos Roberto professor do curso Vida & Misso na Igreja Batista de gua Branca e j foi msico do Ministrio de Louvor e Adorao (Milad) e da orquestra Jazz Sinfnica do Estado de So Paulo. ele quem providencia hospedagem por um ou mais dias e algum tratamento mdico de urgncia para os refugiados. Em seguida, ele os coloca num nibus de carreira ou numa van (se o nmero de pessoas for grande) e os encaminha para a casa de acolhimento da MAIS, em Vila Velha, na Grande Vitria, no Esprito Santo (outras dezesseis horas de viagem). Quando o refugiado s se comunica em rabe, Jos Roberto leva ao aeroporto um intrprete para ajud-lo. Entre os imigrantes cristos, h armnios, ortodoxos, catlicos e protestantes.
Uma vez em Vila Velha, a MAIS providencia tudo que o recm-chegado necessita de imediato: moradia e alimentao, documentao, aulas de portugus e a busca de um emprego. Alguns deles precisam de assistncia psicolgica em razo de traumas recentes que tiveram de ar na Sria, causados pela guerra civil e pela chegada ao pas do violento Estado Islmico (casas destrudas, morte de familiares, bombas, destruio, insegurana etc).
Esses detalhes todos o Mineiro com Cara de Matuto ficou sabendo numa longa conversa com Jos Roberto na manh do primeiro dia de sua viagem a So Paulo, a 13 e 14 de julho.
A misso MAIS surgiu em janeiro de 2010, em Vila Velha, ES, logo aps o terremoto do Haiti, por iniciativa do pastor presbiteriano Mrio Freitas. Trata-se de uma organizao 100% brasileira, cujo lema onde a igreja sofre a prpria igreja acolhe. Ela existe graas parceria com igrejas locais, que adotam famlias inteiras de refugiados pelo perodo de um ano. A misso j tem mais de trinta igrejas parceiras em seis estados e 22 cidades. Sua inspirao vem daquele alemo rico e nobre do sculo 18, conhecido pelo nome de Conde Zinzendorf, que abrigou em suas terras, onde fica hoje a cidade de Herrnhut, na Alemanha, os refugiados morvios que eram perseguidos por sua f (Veja Ultimato, julho/agosto de 2012). bom lembrar que a Sria ocupa, segundo a Misso Portas Abertas, o quarto lugar entre os dez pases mais difceis para o cristo viver.
Jos Roberto explica que o Brasil o pas mais aberto e o menos burocrtico para receber
refugiados de qualquer lugar e de qualquer ordem. A questo que, uma vez aqui, o governo no oferece estrutura alguma para eles recomearem a vida. H esperana de alguma mudana nesta rea. Em algumas naes da Europa o problema outro: muito difcil entrar, mas, para sobreviver dignamente, o governo fornece casa para morar e um e financeiro durante algum tempo.
Projeto de misso urbana para refugiados
O refugiado srio vende tudo o que tem e vem para o Brasil. Ele possui formao profissional e experincia. O problema que, por no falar portugus, acaba ficando desempregado por muito tempo. Por causa disso, jovens profissionais evanglicos esto desenvolvendo um ministrio denominado Business as Mission (Negcios como Misso), ou simplesmente BaM. Eles querem fundar empresas e criar empregos para os refugiados e obter recursos para socorr-los em alguma dificuldade.
Um dos idealizadores do BaM Paulo Humait de Abreu Jnior, um economista de 28 anos, membro da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em So Paulo. Ao participar de um evento chamado ion, em Houston, no Texas, em fevereiro de 2014, Paulo Humait sentiu claramente que Deus o estava chamando para exercer a sua profisso num contexto missionrio. Hoje, ele e uma equipe de jovens bivocacionados esto desenvolvendo startups prprias, bem como atuando como consultores de novos negcios no modelo BaM.
Uma das empresas da plataforma BaM j est funcionando: uma fbrica de artesanato criativo. A empresa de moda jovem deve ser lanada antes do final de 2015.
Na Igreja de Pinheiros, o Mineiro participou de um grupo de orao por misses com dez diversos profissionais jovens (arquitetos, engenheiros, economistas etc) mais o pastor coreano Chun Kwang Chung, 34 anos, doutor em estudos interculturais pelo Seminrio Reformado em Jackson, no Mississipi, e responsvel pela rea de misses da Igreja de Pinheiros. Um dos participantes, Raphael Oliveira, 33 anos, abraou a causa dos refugiados h um ano. Porque vrios jovens j esto sensibilizados com a demanda e a situao dos refugiados e porque So Paulo a cidade que recebe o maior nmero de pedidos de refgio no Brasil (1.204 em 2013), o grupo citado preparou e encaminhou ao conselho da igreja o documento convincente, muito bem preparado e detalhado intitulado Projeto de Misso Urbana com Refugiados. O projeto no visa apenas ao social nem apenas evangelizao: ele quer fazer ambas as coisas. muito mais fcil evangelizar um muulmano aqui no Brasil do que nos pases rabes. Eles pretendem adquirir um local na regio central de So Paulo, onde a locomoo mais fcil e o nmero de refugiados maior, para abrigar pelo menos quatro famlias, uma em cada quarto. A sala, cozinha e banheiros seriam compartilhados. Em parceria com a BaM, esse imvel deveria ter um galpo na parte inferior com salas para aulas de portugus e discipulado, consultrio para atendimento mdico e odontolgico e um espao para um empreendimento comercial que auxiliaria a estruturao inicial dessas famlias em So Paulo. Os principais responsveis pelo projeto so o pastor Chun, o fisioterapeuta Raphael e a liderana jovem da igreja.
A Comiva e a Misso Paz
O nome da rua formidvel: rua da Glria; o nome do bairro formidvel: bairro da Liberdade; o nome da cidade formidvel: cidade de So Paulo. No nmero 900 da rua da Glria, h um prdio de dois andares que abriga uma igreja evanglica sem nome ou com um nome muito estranho, mas significativo: Projeto 242. O nmero para lembrar Atos 2.42: E todos [os primeiros seguidores de Jesus e os 3 mil convertidos no dia de Pentecostes] continuavam firmes, seguindo os ensinamentos dos apstolos, vivendo em amor cristo, partindo o po juntos e fazendo oraes.
Na parte de cima ficam os escritrios da igreja e de uma ONG chamada Comiva. Em outra sala mora um refugiado srio chamado P. M., de 43 anos, que veio para o Brasil em fevereiro deste ano. Muito perto dali fica o Glicrio, outro bairro de So Paulo onde h vrios cortios e boa quantidade de refugiados haitianos.
Foi na 242 que o Mineiro se encontrou com Andr Fabrin de Almeida Leito, um paulista de Presidente Prudente, de 41 anos, fundador e presidente executivo da Comiva, o brao social da igreja que trabalha com crianas, adolescentes e refugiados srios. Ele filiado ao Sindicato de Trabalhadores e Profissionais de Futebol do Estado de So Paulo e exerceu o seu ofcio de professor biocupacional de futebol por quinze anos em trs pases da frica, sempre acompanhado pela esposa, Ftima. Seus dois filhos, Adriel e Eloana, nasceram na frica.
Andr solicitou a presena de A. G., outro refugiado srio, para servir de intrprete na entrevista que o Mineiro fazia com P. M., que s fala rabe. A. G. veio para o Brasil em fevereiro de 2014 e tem duas irms na Sria, uma no Lbano e uma na Frana. Perdeu trs primos na guerra dentro da Sria e outros dois esto desaparecidos. Um tio j foi sequestrado trs vezes. O rapaz tem 24 anos, solteiro e muulmano. Era hoteleiro na Sria. Apesar de falar cinco lnguas alm do rabe (ingls, francs, turco, curdo e portugus), A. G. teve muita dificuldade em conseguir emprego. Hoje, ele trabalha trs horas por dia como professor de ingls e de cultura rabe na BibliASPA, um centro de pesquisa e cultura que congrega pesquisadores e acadmicos de mais de quarenta pases, com sede em So Paulo. A. G. portava a sua cdula de identidade aqui no Brasil, chamada de Registro Nacional de Estrangeiro.
Damasco a cidade mais antiga do mundo continuamente habitada, fundada cerca de 2 mil anos antes de Cristo, e no muito longe de Hermon, provavelmente o monte da transfigurao de Jesus. Como P. M. vivia em Damasco antes de vir para o Brasil, o Mineiro perguntou se a cidade, apesar de ser muulmana, possui algum monumento que lembre a converso de Saulo, ali ocorrida por volta do ano 34 depois de Cristo. H dois monumentos que dizem respeito ao apstolo, a Igreja de So Paulo e a Igreja dos Olhos, ligados por um tnel, respondeu P. M. Em Damasco havia morado Naam, o comandante do exrcito da Sria, na poca do profeta Eliseu, e aquela menininha israelita que fez propaganda de Deus para o general (2Rs 5.2).
Quem levou o Mineiro do hotel rua da Glria e o trouxe de volta foi Mayra do Prado, professora de portugus para refugiados srios no Projeto 242. Ela faz mestrado em relaes internacionais, participa da Aliana Bblica Universitria e membro da Igreja Batista de gua Branca. Mayra professou sua f em Jesus aos 14 anos e desde criana tem conscincia missionria.
Perto do Projeto 242 est a Igreja Nossa Senhora da Paz, na rua Glicrio, parquia catlica muito conhecida por seu envolvimento com migrantes. Ali fica a Casa do Migrante, um ambiente que abriga migrantes e refugiados por tempo indeterminado, at conseguirem documentao e emprego. Esse espao tem 110 leitos divididos em ala masculina e feminina, banheiros, rea para as crianas e uma grande sala de confraternizao. Em 2014, aproximadamente 6.888 migrantes e refugiados receberam alguma ajuda da Misso Paz, que inclui a Casa do Migrante e o Centro Pastoral e de Mediao dos Migrantes (MM). Esse ministrio levado a cabo pelos missionrios scalabrinianos socorre migrantes e refugiados de treze pases: quatro da Amrica do Sul (Bolvia, Paraguai, Peru e Colmbia), um da Amrica Central (Haiti), cinco da sia (Sria, Ir, Iraque, Paquisto e China) e quatro da frica (Marrocos, Repblica Democrtica do Congo, Lesoto e Djibuti).
Depois de ver, de ouvir, de perguntar, de fazer perguntas, de comer um quibe srio de quase um palmo e de abraar Maya, a pequena refugiada sempre sorridente, o Mineiro se lembrou daquela pergunta escatolgica dirigida a Jesus: Quando foi que vimos o senhor como estrangeiro e o recebemos na nossa casa [ou em nosso pas]">Vozes esquecidas
Por conta da urgncia do tema, resolvemos antecipar aqui no Portal a publicao da reportagem que a revista Ultimato publicou em sua edio de setembro-outubro. O Pr. Elben Csar visitou refugiados srios acolhidos por cristos no Brasil e constatou que ainda muito atual o versculo: Fui estrangeiro, e vocs me acolheram (Mt 25.35)
Confira.
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O Mineiro com Cara de Matuto com os refugiados srios
Eu era estrangeiro e vocs me receberam [no Brasil]

Refugiados e deslocados 60 milhes
O Brasil e principalmente as igrejas precisam saber que o mundo est vivendo a maior crise humanitria da histria, que chega a superar o nmero de deslocados por ocasio da Segunda Guerra. Conflitos polticos, tnicos e religiosos, grupos terroristas islmicos (como o Estado Islmico e Boko Haram), redes internacionais de crime organizado, crises econmicas, corrupo, desastres naturais, somados insensibilidade das grandes potncias, geraram um caos generalizado. Quem est tentando abrir os nossos olhos para essas tragdias o Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados (Acnur).
Basta saber que existem hoje mais de 60 milhes de pessoas deslocadas forosamente de suas casas. Destas, 20 milhes so obrigadas a viver em outro pas e 40 milhes so obrigadas a viver fora de suas casas, mas no mesmo pas. Em 2014, a mdia diria de pessoas que tiveram de abandonar suas casas foi de 42.500! Quase a metade dos refugiados so mulheres e crianas (49%) e a metade tem menos de 18 anos.
Outro problema complicado que 86% dos refugiados esto em naes em desenvolvimento, como o Qunia, Paquisto, Turquia, Jordnia e Lbano. Isso implica um desafio enorme tanto para o governo e a populao desses pases como para os prprios refugiados. A Turquia, que abriga a metade dos refugiados srios (quase 2 milhes), por exemplo, devido falta de fundos, no capaz de satisfazer as necessidades humanitrias dos refugiados que nela se abrigam. O pas tem uma alta taxa de desemprego e uma populao jovem. A presena de to grande nmero de refugiados aumenta o problema do desemprego por causa da concorrncia. Alm dos nativos, h estrangeiros em busca de emprego. Acontece tambm que alguns empregadores do preferncia aos refugiados porque o salrio deles bem menor (enquanto o trabalhador turco recebe 1.500 libras turcas, o trabalhador refugiado recebe apenas 200). Algum j disse que a simpatia inicial do povo turco para os refugiados est comeando a se transformar em antipatia. A mdia de tempo que um refugiado permanece fora de seu pas de dezessete anos.
Jos Roberto M. Prado, coordenador do Renovare, programa de acolhimento da Misso em Apoio Igreja Sofredora (MAIS), acrescenta que os refugiados enfrentam desafios enormes, diariamente, como falta de esperana, violncia, discriminao, fome, falta de abrigo, perda de identidade e perda de poder econmico. Alm disso, eles encaram jornadas perigosssimas, como atravessar desertos, zonas de guerra, oceanos, expondo a si mesmos e aos seus familiares, e tornam-se vulnerveis s redes de trfico humano, explorao sexual, trfico de rgos.
Onde a igreja sofre a prpria igreja acolhe
Uma vez em Vila Velha, a MAIS providencia tudo que o recm-chegado necessita de imediato: moradia e alimentao, documentao, aulas de portugus e a busca de um emprego. Alguns deles precisam de assistncia psicolgica em razo de traumas recentes que tiveram de ar na Sria, causados pela guerra civil e pela chegada ao pas do violento Estado Islmico (casas destrudas, morte de familiares, bombas, destruio, insegurana etc).
Esses detalhes todos o Mineiro com Cara de Matuto ficou sabendo numa longa conversa com Jos Roberto na manh do primeiro dia de sua viagem a So Paulo, a 13 e 14 de julho.
A misso MAIS surgiu em janeiro de 2010, em Vila Velha, ES, logo aps o terremoto do Haiti, por iniciativa do pastor presbiteriano Mrio Freitas. Trata-se de uma organizao 100% brasileira, cujo lema onde a igreja sofre a prpria igreja acolhe. Ela existe graas parceria com igrejas locais, que adotam famlias inteiras de refugiados pelo perodo de um ano. A misso j tem mais de trinta igrejas parceiras em seis estados e 22 cidades. Sua inspirao vem daquele alemo rico e nobre do sculo 18, conhecido pelo nome de Conde Zinzendorf, que abrigou em suas terras, onde fica hoje a cidade de Herrnhut, na Alemanha, os refugiados morvios que eram perseguidos por sua f (Veja Ultimato, julho/agosto de 2012). bom lembrar que a Sria ocupa, segundo a Misso Portas Abertas, o quarto lugar entre os dez pases mais difceis para o cristo viver.
Jos Roberto explica que o Brasil o pas mais aberto e o menos burocrtico para receber

Projeto de misso urbana para refugiados
O refugiado srio vende tudo o que tem e vem para o Brasil. Ele possui formao profissional e experincia. O problema que, por no falar portugus, acaba ficando desempregado por muito tempo. Por causa disso, jovens profissionais evanglicos esto desenvolvendo um ministrio denominado Business as Mission (Negcios como Misso), ou simplesmente BaM. Eles querem fundar empresas e criar empregos para os refugiados e obter recursos para socorr-los em alguma dificuldade.
Um dos idealizadores do BaM Paulo Humait de Abreu Jnior, um economista de 28 anos, membro da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em So Paulo. Ao participar de um evento chamado ion, em Houston, no Texas, em fevereiro de 2014, Paulo Humait sentiu claramente que Deus o estava chamando para exercer a sua profisso num contexto missionrio. Hoje, ele e uma equipe de jovens bivocacionados esto desenvolvendo startups prprias, bem como atuando como consultores de novos negcios no modelo BaM.
Uma das empresas da plataforma BaM j est funcionando: uma fbrica de artesanato criativo. A empresa de moda jovem deve ser lanada antes do final de 2015.
A Comiva e a Misso Paz
O nome da rua formidvel: rua da Glria; o nome do bairro formidvel: bairro da Liberdade; o nome da cidade formidvel: cidade de So Paulo. No nmero 900 da rua da Glria, h um prdio de dois andares que abriga uma igreja evanglica sem nome ou com um nome muito estranho, mas significativo: Projeto 242. O nmero para lembrar Atos 2.42: E todos [os primeiros seguidores de Jesus e os 3 mil convertidos no dia de Pentecostes] continuavam firmes, seguindo os ensinamentos dos apstolos, vivendo em amor cristo, partindo o po juntos e fazendo oraes.
Na parte de cima ficam os escritrios da igreja e de uma ONG chamada Comiva. Em outra sala mora um refugiado srio chamado P. M., de 43 anos, que veio para o Brasil em fevereiro deste ano. Muito perto dali fica o Glicrio, outro bairro de So Paulo onde h vrios cortios e boa quantidade de refugiados haitianos.
Foi na 242 que o Mineiro se encontrou com Andr Fabrin de Almeida Leito, um paulista de Presidente Prudente, de 41 anos, fundador e presidente executivo da Comiva, o brao social da igreja que trabalha com crianas, adolescentes e refugiados srios. Ele filiado ao Sindicato de Trabalhadores e Profissionais de Futebol do Estado de So Paulo e exerceu o seu ofcio de professor biocupacional de futebol por quinze anos em trs pases da frica, sempre acompanhado pela esposa, Ftima. Seus dois filhos, Adriel e Eloana, nasceram na frica.
Andr solicitou a presena de A. G., outro refugiado srio, para servir de intrprete na entrevista que o Mineiro fazia com P. M., que s fala rabe. A. G. veio para o Brasil em fevereiro de 2014 e tem duas irms na Sria, uma no Lbano e uma na Frana. Perdeu trs primos na guerra dentro da Sria e outros dois esto desaparecidos. Um tio j foi sequestrado trs vezes. O rapaz tem 24 anos, solteiro e muulmano. Era hoteleiro na Sria. Apesar de falar cinco lnguas alm do rabe (ingls, francs, turco, curdo e portugus), A. G. teve muita dificuldade em conseguir emprego. Hoje, ele trabalha trs horas por dia como professor de ingls e de cultura rabe na BibliASPA, um centro de pesquisa e cultura que congrega pesquisadores e acadmicos de mais de quarenta pases, com sede em So Paulo. A. G. portava a sua cdula de identidade aqui no Brasil, chamada de Registro Nacional de Estrangeiro.
Damasco a cidade mais antiga do mundo continuamente habitada, fundada cerca de 2 mil anos antes de Cristo, e no muito longe de Hermon, provavelmente o monte da transfigurao de Jesus. Como P. M. vivia em Damasco antes de vir para o Brasil, o Mineiro perguntou se a cidade, apesar de ser muulmana, possui algum monumento que lembre a converso de Saulo, ali ocorrida por volta do ano 34 depois de Cristo. H dois monumentos que dizem respeito ao apstolo, a Igreja de So Paulo e a Igreja dos Olhos, ligados por um tnel, respondeu P. M. Em Damasco havia morado Naam, o comandante do exrcito da Sria, na poca do profeta Eliseu, e aquela menininha israelita que fez propaganda de Deus para o general (2Rs 5.2).
Quem levou o Mineiro do hotel rua da Glria e o trouxe de volta foi Mayra do Prado, professora de portugus para refugiados srios no Projeto 242. Ela faz mestrado em relaes internacionais, participa da Aliana Bblica Universitria e membro da Igreja Batista de gua Branca. Mayra professou sua f em Jesus aos 14 anos e desde criana tem conscincia missionria.
Depois de ver, de ouvir, de perguntar, de fazer perguntas, de comer um quibe srio de quase um palmo e de abraar Maya, a pequena refugiada sempre sorridente, o Mineiro se lembrou daquela pergunta escatolgica dirigida a Jesus: Quando foi que vimos o senhor como estrangeiro e o recebemos na nossa casa [ou em nosso pas]">Vozes esquecidas
Elben Magalhes Lenz Csar foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato at a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evanglico de Misses e pastor emrito da Igreja Presbiteriana de Viosa (IPV), autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Fao o Que No Quero?, Refeies Dirias com Jesus, Mochila nas Costas e Dirio na Mo, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeies Dirias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, Histria da Evangelizao do Brasil e Prticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso Csar, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
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