Por Fernando Colho Costa
Artigo em memria de Edward Robinson de Barros Cavalcanti e Miriam Nunes Machado Cotias Cavalcanti, falecidos em 26.02.2012.

H oito anos, nestes dias de fevereiro, surge uma lembrana no corao e mente de todos aqueles que tiveram suas vidas e ministrios influenciados por alguma leitura, conversa ou convvio com o
Bispo Robinson Cavalcanti. A relao entre religio e poltica foi um tema constante nos escritos de Robinson. Mas muito mais que isso, ele falou sobre Igreja, f e devoo. Pode-se dizer que seu pensamento foi orientado pela convergncia entre o que cristianismo (tradio e credos) e de como os cristos deveriam viver (engajamento scio-poltico).
Robinson Cavalcanti era um irmo em Cristo disposto a ver a Igreja brasileira firme em suas bases doutrinrias e tradicionais e atuante em suas demandas de evangelizao e servio sociedade. Para ilustrar essa afirmao, recordo uma de suas falas na formatura de uma turma de Teologia, publicada na Revista Ultimato, com o ttulo Orao aos jovens pastores (Edio 245, maro de 1997).1
Sua fala quele grupo de formandos foi uma espcie de prece ao encorajamento de lideranas funo pastoral e teve os seguintes tpicos: um rito de agem, uma crise de identidade, uma misso integral, uma natureza humana, uma rica herana e uma gratido. Concordando com a afirmao de Maurice Halbwachs de que a memria coletiva contm as memrias individuais, mas no se confunde com elas, cabe agora ouvirmos sua orao aos jovens pastores, tentando ser parte da resposta de Deus para esse momento da Igreja no Brasil.2
Um rito de agem
Ao comentar que a concluso de um curso de nvel superior, em Teologia, em um pas habitado por milhes de sem-escola e sem vez [...] pressupe uma resposta ao chamado divino para conhec-lo mais, para conhecer mais de sua criao, e para uma vida comprometida de servio ao Rei e ao reino, ele trouxe tona trs reflexes necessrias.
A primeira foi a dimenso histrica, chamando os novos ministros do evangelho necessidade de conscincia dos desacertos e erros do Povo da Nova Aliana ao curso da sua rica trajetria e um chamamento valorizao da herana, segundo ele, nem sempre assumidas em um tempo sem memria, sem razes e sem legados, que cada vez mais fragiliza a identidade de ministros cristos.
A segunda reflexo foi sobre a dimenso catlica daquele evento. A orao pedia que aquele grupo escutasse a voz do Esprito, que soprava entre os diversos povos e culturas, manifestando a multiforme graa de Deus, o que faria com que fossem minadas as tentaes do sectarismo e do etnocentrismo.
A ltima ateno mencionada na orao foi quanto ao ensino-aprendizagem dos novos ministros. Os currculos e prticas dos cursos de formao pastoral, missionria, musical e de educao religiosa tinham de lidar com a tarefa nada fcil de conciliar excelncia intelectual, maturidade espiritual e capacitao profissional, a partir do barro de cada um e sob presses variadas e nada sutis de todos os lados. Sua preocupao era a de refletir se os currculos e filosofias pedaggicas estavam atendendo s necessidades regionais e brasileira.
Uma crise de identidade
Quem so os ministros cristos no Brasil? Segundo Robinson Cavalcanti, essa resposta viria da conciliao entre o que eles e a igreja e o pas entendiam sobre quem so (ou deveriam ser) e o que fazem (ou deveriam fazer). Cabe aos ministros do evangelho ficarem s aos seus crculos religiosos e no dialogar com os diversos setores da sociedade civil e Estado? Por outro lado, cabe a eles o desfile carnavalesco com um Jesus de vrias faces, em nome de uma hermenutica das minorias? necessrio o reconhecimento de certa crise de identidade entre igrejas (espao pblico), ministros (lideranas formais) e de presena (manifestaes no institucionais).
A reflexo proposta por Robinson aos jovens pastores pode ser instigada pela pergunta: O que ser ministro da Palavra e dos Sacramentos segundo o corao de Deus e para o corao do povo deste tempo e lugar">Robinson Cavalcanti: as alegrias e tristezas de um autor cristo