Opinio 3pp3w

29 de maio de 2012
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Ortodoxia 205j5s

Muita gente no sabe, mas C. S. Lewis foi muito influenciado, entre outros, pelo jornalista, escritor e palestrante britnico G. K. Chesterton (1874-1936), principalmente no que diz respeito sua concepo de contos de fada. Ele se tornou conhecido pelas aventuras do memorvel Padre Brown, obras que beiram o fantstico, como O Homem que era Quinta Feira, entre outros trabalhos mais investigativos.

Como jornalista, Chesterton contribuiu para importantes jornais de Londres. Seu estilo comunicativo bem-humorado e sua arte argumentativa e equilbrio eram apreciadas por Jorge Luis Borges, Ernest Hemingway, Gabriel Garca Mrquez, e T. S. Eliot, alm de Mahatma Gandhi e Martin Luther King, apesar de algumas divergncias.

O texto em que ele fala sobre os contos de fada encontra-se em Ortodoxia* (1908), um relato da peregrinao espiritual do jovem Chesterton aos seus 34 anos, ex-ateu, ex-socialista, profundamente inserido nas questes do seu tempo, procura de respostas sinceras para perguntas honestas. Ironicamente, confessa, o navegador que saiu para descobrir a Amrica, na realidade, acabou por reencontrar a boa e velha Inglaterra (Ortodoxa). Mal imaginava ele que, cem anos depois, o livro se mostraria ainda to atual e incisivo quanto s frases que o tornaram clebre.

Mas o que vem a ser Ortodoxia? Lembrando que orto significa reto; e doxa, crena ou glria, mas no senso comum, a palavra cheira a algo retrgrado, ultraado e dogmtico. De fato, preciso considerar que Chesterton no pretendia ser original com um ttulo desses. Ele fala do que h muito tempo j sabe o homem comum: Que o mal existe e deve ser combatido. Que a misria absurda. Que a realidade tambm existe e gloriosa. Que a tirania do ado est sendo substituda pela tirania do futuro. Que as principais questes da vida e sua moral encontram-se j encravadas nos mais insuspeitos contos de fada. Que a cincia tem limites que precisam ser respeitados. Que o novo no necessariamente supera o antigo. Que no existe a neutralidade poltica, religiosa, econmica. Que o antropocentrismo, os extremismos e outros ismos so absurdos. Enfim, que somente quando partimos de um ponto de referncia absoluto e reto, podemos itir o que relativo. essa a sabedoria milenar por trs dos dogmas.

Quem sabe, uma das frases mais clebres de Ortodoxia, nesse sentido, seja: O louco um homem que perdeu tudo exceto a razo. Por outro lado, ele defende o uso da razo, desde que dentro do que chama de razovel para uma obra em relao ao seu criador, o logos ou razo primordial.

Essa paradoxal postura equilibrada entre os extremos do ceticismo racionalista e do sentimentalismo irracional a marca registrada de Chesterton. A ortodoxia, assim entendida, o nico guardio lgico da liberdade, da inovao e do avano. Sem ela estaremos como cegos em tiroteio. Se voc quiser conservar um poste de luz branco, explica ele, precisa ar sempre uma nova tinta nele. Inovao no significa destruio; nem to pouco a tradio, estagnao.

A ortodoxia crist resume-se ao Credo dos Apstolos, ou confisso comum a todos os cristos catlicos e protestantes. Longe de ser uma camisa de fora, esses princpios simples so a via de o a ideais humanos como: a justia, a amizade, a liberdade, a coragem, a paz e a alegria. Assim, Chesterton resgata o ncleo da f crist, capaz de dar sentido existncia humana como um todo.

Nessa linha, o captulo dedicado aos contos de fada (ou dos Elfos), diz que aquele o pas ensolarado do bom senso. No a terra que julga o cu, mas o cu que julga a terra. nisso que C. S. Lewis vai apostar em seu clssico Cristianismo Puro e Simples e em suas famosas Crnicas de Nrnia, e tantos outros vo seguir o exemplo.

Nota:

* Publicado no Brasil pela Editora Mundo Cristo.

Vamos ler: Ortodoxia

Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja

Gabriele Greggersen

ɠmestre e doutora em educao (USP) e doutora em estudos da traduo (UFSC). autora de O Senhor dos Anis: da fantasia tica e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questo. Costuma se identificar como missionria no mundo acadmico. criadora e editora do site www.cslewis.com.br

Textos publicados: 68 [ver]

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