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15 de abril de 2016
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O natural e o sobrenatural de um milagre 6u6r1q

E ele bem direto: o sobrenatural no algo nebuloso, mas to natural, quanto pensar (principalmente), respirar e dormir. Isso para contrariar os que se dizem naturalistas e item apenas fenmenos que chamam de naturais, mas que, na verdade, excluem o sobrenatural. Segundo Lewis, ns que vivemos to distrados que j no reparamos nele. Como diz o autor com toda a singeleza: [...] a Natureza em si mesma j um resultado grandioso do Sobrenatural. Deus a criou e penetra onde quer que exista mente humana. (LEWIS, 2006, p. 74)
Em outro momento, Lewis diz que o natural e o sobrenatural tm algo em comum: sua origem em Deus e aqui vem, para mim, a ideia central e mais revolucionria do livro: o milagre no uma quebra da lei natural, sendo apenas algo extraordinrio, enxertado de fora (embora tambm seja isso), mas tambm algo que aprofunda o ordinrio. Isso se d porque podemos entender o natural de duas formas: como o que faz a natureza funcionar desde a Queda, que envolve a distoro da realidade criada e que ou a ser conhecida como realidade, e o que foi criado por Deus originalmente, antes da Queda, que a verdadeira realidade.
Em outras palavras: se a vida sem o milagre real, o que acontece com o milagre mais realidade. Pois a origem da realidade est em Deus, que o autor tambm do milagre.
Na verdade, nossa noo do sobrenatural to distorcida quanto a de realidade, que uma totalidade que envolve o sobrenatural, sendo que o mesmo mais legitimamente real do que o natural, no sentido decado. Alis, associamos o sobrenatural ao espiritual, o que correto, mas que imaginamos como sendo algo abstrato, obscuro e distante (concepo essa que tipicamente esprita) e no material e concreta e presente, como a Bblia nos ensina que o Esprito Santo.
por isso, por ser mais real do que a realidade ordinria, que o cu, que onde os milagres so eventos comuns, no um mero estado da mente (como, alis, o inferno tambm no ), como as verses espiritualistas e de autoajuda da vida nos querem fazer crer. O cu um lugar concreto e material.
Como faz sempre e parte de seu estilo, Lewis apresenta analogias para ilustrar os seus pontos. No caso, ele compara a crena nos milagres com a crena no sol. No podemos v-lo diretamente, sua luz invisvel para ns, mas por meio dele, podemos ver todas as demais coisas. Alis, a traduo dessa frase ficou incompleta na edio de 2006 da Martins Fontes, traduzido por Ana Schffer. Faltou a parte que eu inseri entre colchetes.
Acreditamos que o Sol esteja no cu ao meio-dia de vero no porque podemos v-lo claramente (na verdade, no o podemos), mas porque [por meio dele] conseguimos ver todas as outras coisas.
Essa ideia de que o milagre mais real do que a falta dele (se bem que, num certo sentido, em ltima instncia, do ponto de vista da providncia e soberania de Deus, tudo obra do sobrenatural), fica clara ainda nesse outro trecho:
O Milagre como um todo, longe de negar o que j conhecemos da realidade, a nota explicativa que lana luz a esse texto obscuro. Ou melhor, prova ser o texto principal em que a natureza no a de simples comentrio. Na cincia, tudo o que lemos eram apenas as impresses de um poema; no Cristianismo, o poema todo nos revelado. (LEWIS, 2006, p. 199)
Mais adiante, ele complementa:
Cada milagre escreve para ns em letras midas aquilo que Deus j escreveu ou escrever em letras quase que grandes demais para serem notadas na ampla tela da Natureza. (LEWIS, 2006, p. 205)
isso que torna o cristianismo to fascinante e to improvvel que tenha sido inventado por algum, porque ele vai alm da explicao natural. No existe apenas a lei fsica da entropia, que diz que tudo se desfaz e tende ao caos, mas existe tambm o princpio do avano, que nos d esperana. Mas esse avano no aleatrio e baseado no acaso, como no caso da explicao evolucionista, mas , paradoxalmente, um retorno a um estado inicial, um estado original anterior ao evento da entrada do princpio da corruptibilidade no mundo. Ou seja, quanto mais voltamos s origens, mais avanamos; e quanto mais subimos, para alm da realidade, mais penetramos em suas profundezas, como Lewis afirma em um dos apndices do livro.
Quer mensagem mais apropriada do que essa para a situao atual de predomnio da corrupo nesse pas?
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Milagres no solicitados
O cu aberto de C. S. Lewis
Surpreendido pela Alegria
Foto: Jla Tan/Freeimages.com
ɠmestre e doutora em educao (USP) e doutora em estudos da traduo (UFSC). autora de O Senhor dos Anis: da fantasia tica e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questo. Costuma se identificar como missionria no mundo acadmico. criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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